domingo, 26 de outubro de 2008

pontes eternas

Quem és?
Que entras no meu sono
Pela noite, vagueias, em mim
E em ti me perco e reparto
Em reflexos, de palavras abertas
Rasgadas, sem pudor

Usas-me, uma e outra vez
Levas o que tenho por certo
Esta tarde calma e cinzenta
Onde adormeço e esqueço
A razão de gritar e viver
Nesta intrusa ilusão cruel

Se fosse o dono do tempo
Fazia uma pausa, por ti
Buscava no leito dos dias
Fragmentos perdidos de mim
Em desalinho de euforia e desejo
Leria lendas estranhas, absurdas
Baladas molhadas, de cores mil
E ébrios de palavras loucas
Tomaríamos o certo por incerto
Na longa noite amiga, benévola
Arca de sonhos e sentires
Sabendo que a aurora não tarda
E o dono do tempo o reclama para si

Quem és?
Que em mim fazes morada
Nesta estrada velhaca, de escolhos
Velha estrada de saberes, cingidos
Que o pó do tempo abraça, singelo
Tornando os dias em anos, esbatidos
Franqueias a entrada, esparsa
Revolves o pó, esquecido
Cuidas que és vento, incólume?
Mais um som, adormecido?

És...
Pontes sem margens, certas
Suspensas por palavras, lunares
Tecidas em telas soltas
Por lágrimas quebradas sem par
Águas revoltas são esquecidas
Pontes, eternas e ternas
Que entre palavras habitas
Sólidas, simples como o mar
Onde por vezes, grito ao tempo
Sim
Quero

RuiSantos

Sem comentários: