segunda-feira, 29 de junho de 2009

desabafos

Gostava de ser quem sou
Não eu
Apenas eu
Aquele que escreve sonhos
E ama sem medida

Gostava de ser quem sou
Não quem penso ser
Não quem gostarias que fosse
Mas, apenas eu
Buscando quem me encontre
Pleno de dúvidas e certezas
De que nada tenho como certo
Apenas um dia a seguir a outro
E a permanente angústia
De que tudo é efémero, ilusão
Onde as sólidas certezas
Apenas são estados de espírito
Que o dobrar do dia, esfumará

Gostava de ser quem sou
Simples
Quebrando imagens, de sapiência
Queimando regras, de conduta
Trocando o certo, pelo incerto
Delicioso, irresistível
Como tu
Diamante eterno
Pedra sem anel
Insaciável de saberes
Em mares de sabores
Que me aportaste
Sem querer, sem saber
E perder-me, em conjecturas
De, se, e quando
Ao invés de como e porquê
Castrador, inibidor, prepotente

Gostava de ser quem sou
Mais um sobrevivente, na vida
Mais um lutador, sem ânimo
Mais um nome, numa sala cheia
Que te anima, com um sorriso
E sorri quando te beija
E te beija, quando te abraça
Sem hora, sem dia
Apenas porque, sim
Porque é necessário
Saber-te rir
Saber-te viver
Saber, simplesmente
Que valeu a pena
Ter-me dado
Sem saber como
Nem porquê

Gostava de ser quem sou
Não quem tenho de ser
Certo, seguro, certeiro
Conveniente, cómodo, popular
Apenas um passageiro na vida
Partilhando pensares, sentires e afectos
Sem planos
Sem datas
Mordendo metas
Vogando ao som das palavras
Incontroláveis, escorregam de mim
Para ti
E quebrar, o equilíbrio precário
De quem posso ser
Sem ti

Gostava de ser quem sou

Alguém que chora em silêncio
Porque os homens não choram

Rui Santos

hoje

o tempo de cada jornada
resgata-se vezes sem fim
levando em cada tirada
pedaços quebrados de mim

trocámos sonos, por sonhos
deitámos noites, no chão
pintámos auroras, sorrindo
quebrámos pedaços, de não

perguntámos sem medo
ao tempo
pelos poemas, a ler
pelos beijos, a dar
se os rios
ainda correm,
para o mar
e o tempo contou-nos histórias
de multidões de memórias
coloridas, sem par
de quando o tempo, sem tempo
parou, para sonhar
devaneios breves e doces
escritos soltos ao luar
levados por ventos loucos
salgados, de tanto chorar

e hoje
o tempo parou
para te ver sorrir
sorri, pois
pelos dias molhados
pelas noites sem luar
mas, acima de tudo
sorri
porque hoje
o tempo parou
por ti

Rui Santos

eu

quem sou?
perguntas

quem sou?
pergunto

fogo, explosão
água que dorme
palavra contida
pensamentos, sim, não

bloco de apontamentos
conto por terminar
capa de lamentos
quero respirar

beco sem saída
mar por arar
terra contraída
força a dobrar

um parto a parir
uma vontade de viver
um grito para sair
outro, para ter

sou o que sou
uma voz, um livro
um doce retiro
temperado a sal

uma vida cozinhada
uma dor resgatada
eu
meu rival

Rui Santos

mais que letras

vida, vida
quanto te consomes,
na busca da razão
no lamento cego, inútil
na ferida, que teimas em ter
na dor, que doi, e fazes doer

vida, vida...
quantas vezes insistes em viver
e cansada recuas
quantas vezes és adiada
pelo nada, seguro
retomas a estrada
e vais sem rumo

vida, vida...
não sabes que és mais que letras?
não sabes o fogo que corre em ti?
Dei e recebi
chorei e ri
que mais queres de mim?

solta o cativo não seguro
que se perca
que se queime
que viva
além de ti
vida

ruisantos

raiva

Nada sinto
Paro o tempo
Na busca de mim

Em rodopio
Percorro as estradas da vida
E bebo a raiva
Da noite insone

Grito a dor enegrecida,
Injusta, selvagem
Esvazio-me
De memórias doces
E sou
Uma alma nua
Intocável

Sem sentir o sal da vida
Nada me dói
Nada tenho
Apenas esta raiva surda
De existir sem saber
As sortes vindouras
As horas que faltam
Para o renascer, fugaz
De uma saudade futura

Contudo
O sangue quente
Ainda crepita
Na busca da completa quietude
Merecida
Em mim

RuiSantos

descontos

cansado

estou cansado
de estar cansado

preciso de saber
do que preciso
para não estar
cansado

quem quero ser?
outro eu?
renascer?
comprar outra história?

que importa
serei o vilão

não vejo o mar
mas sei que existe
bem á minha frente
sinto a maresia
molha-me o dorso
seca-me os lábios
num castigo ecoante

sei o que não quero
não quero magoar
não dêem por mim

respiro por necessidade
em silêncio
a um canto sentado
na solidão de mais uma noite
como os restos do dia

descontos
que o tempo me dá
para viver
metade mim
quem me entende?

RuiSantos

olhos calados

os olhos falam calados
falam, gritam e sentem
pelos beijos retirados
á solidão, acre e sedenta

os olhos falam calados
de poemas por escrever
estrofes incertas e soltas
que á solidão vão colher

os olhos falam calados
por vezes até demais
despem beijos molhados
loucos, distantes, reais

os olhos falam calados
palavras prenhes de ti
perdem-se os dias contados
nas palavras, que te li

RuiSantos

mais

Mais
Que um sonho abafado
És a certeza
Do meu ser

Mais
Que um dia adiado
És um rio
A renascer

Mais
Que um ano, de palavras
Ou uma vida, sem querer
És um momento, sem tempo
Que corre
E faz correr

RuiSantos

Mar

mar
eterno e sedutor
encerra segredos
devolve mistérios

mar
união sem tréguas
de rios revoltos
renascidos
marés que vão
marés que trazem
dorsos ao luar
singelos
por navegar

mar
conta-me
mistérios prudentes
de marés nuas
em praias roucas
sentidas e doridas
ao luar

RuiSantos

és

és
mais que um sonho acordado
és, a vida a renascer

és
mais que um sorriso alado
és, um aroma que dói
e faz doer

és
mais que um sentir
desatinado, em mim

és
loucura serena, renovada
ponte em mares, cruzada
estrada florida, partilhada
rota, sem começo, nem fim

és
um presente, ausente
de pedaços trocados

és apenas
tu
e tanto és...

RuiSantos

por vezes


Estou só
Vendo os sonhos que passam
Solidão
Sufocante, letárgica
Sedenta de vida
Colhe cores afoitas
Desdenha tristezas
Brotam sorrisos
Que enterram vencidos

“ Corro, corro
Fujo de mim
A noite e o dia
Trocam sem fim”

Retorno
Árida secura
De oásis, pontuada
Miragens seguras
Contidas, reais
Sim… entendo-as

Sorrio
Como devo
Finto as horas
Em rodopios inócuos
Roço o desejo
Do ter

O livro manda
Não obedeço
Rasgo a página
Salto sonos
Por doces palavras
Sentado no tempo
Escorro argumentos
Em fios de chuva
Descendente

Gritam

Estás só

Selo a porta pequena
Parto inseguro
Perco a margem
Subimos o rio
Ávidos de ses
Mas...
Sós
Não mais

Rui Santos

livros trocados

Olho e nada vejo
Quero e não tenho
Quem sou?
Que me condeno
Quem sou?
Que te firo
Alma errante
Esvoaço em ti

Tenho
Palavras, por morada
Letras, por trilhos
Incompleto
Inábil de razão
De dias me sobro
De sonhos me visto

Vejo
Mares escarpados
Apetecíveis
Não me retenho
Toco águas de Julho
Mais desejo
Em mais navego

Tolo
Parco de saber
Águas profundas, firmes
Plenas, constantes
E eu
Nada sou
Nada tenho
Apenas, esta força teimosa
De um caçador de livros
Trocados

RuiSantos

sabor ingénuo

felicidade
doce sabor ingénuo
ténue brisa da tarde
tesouro inocente, sem dono
amarras o gigante
despertas o simples
sem pudor, desnudas desejos
sem razão, sorves limites

felicidade
lança farpada
lâmina dupla
matas o medo
decepas a culpa

felicidade
quem és?
inquietas quem te quer
ris, de quem te segura
dona de ti
visitas sem hora
partes
se te despimos

felicidade
quem te teme?
que te nega a entrada
quem te teme?
por te perder
nos ecos da vida

felicidade
aroma fugaz
espelho de águas plácidas
respiro-te
vejo-te

leva-me

Rui Santos

o livro

passam os dias
passam as noites
leio instruções
decoro a página

capitulo primeiro

certezas inúteis

quarenta e sete razões para sorrir
uma
para não cumprir
quero rir
quero voar
quero ser eu
enlouquecer na miragem
dar o certo pelo incerto
cair
da noite adormecida
indolente, paralela
salvar o dia
enquanto é dia
partir
na certeza do incerto
lamber o sal, molhado
perder-me
em ruas abssintas
correr para nada
e para tudo
viver sofregamente
instante a instante
e dormir...
sem pensar
nos anos que perdi
nas noites de espera
pelos dias descalços
sensuais
apelantes de vida
trilhantes do ocaso
mas...
meus
como o livro
meu, também
que se perpetua
sem fim

Rui Santos

Dá-me a mão

“batem as asas, libertas
rumam sem rumo, mais além
ágeis, de vida incerta
instantes que o tempo tem”

dou-me
a quem me recebe
não me detenho
não me quero
sobrante de mim
partilho, sem portas
espero, loucuras
suporto, distâncias
nego, regras, benignas
quebrantes de sonhos
que em cinzentos zelosos
selam o dia

abraço o porto
ato-o á alma
feliz
pelos dias perfeitos
vividos de novo
e choro
as partidas, rasgadas
mas ficar
é negar-me
ao louco que sou
não me nego
não mais
não me detenho
não mais
volto á estrada
matizada de sabores
em rios que correm
sofridos
e retorno
á teimosa força
de ser, quem sou

ao teu encontro
vou
vem também
dá-me a mão
perde-te
em mim

“corpo de mar,
alterado, quebrado,
molhado
na ânsia de chegar"

Rui Santos

considerações sobre um tema

O amor não acaba

Cresce, sai de casa
Trabalha, dorme
Descansa, brinca
Passeia á beira serra
Cai, magoa-se, grita,
Exaspera
Desespera na espera
Mas
Não acaba
Se intimida, sem mais
Então
Não é amor
Foi apenas
Um sucedâneo, do amor
Um devaneio, amoroso
Uma paixão, desbragada

O amor
Quando entra
Instala-se
Em cada nesga de espaço
E cada recanto
Tem o seu nome gravado, a carmim
Pelas batalhas, retalhadas a pulso
E o seu aroma, inconfundível
Responde a cada desafio
Se porventura
Toma imagem de ausente
Mero engano
Está lá
Distraído, absorto
Enredado em pensamentos enleados
Por vezes
Brincando
Apenas pelo prazer de brincar, e rir
E contagiando com seu riso
(quantas vezes a custo)
Amizades, verdadeiras

O amor
Aquele que faz morada em casa alheia
E a chama de sua
Esse
Sorri
Sorri, pela cumplicidade encontrada
De quem ouve em uníssono
O silêncio revelador de um olhar
O grito sussurrado de um beijo
O simples desejo, de sonhar
E quando a incerteza
Por mais certa que seja
Tenta franquear a entrada
O amor, sorrindo
Renova-se
Na face imutável de uma palavra
Que em silêncio, repete

Amo-te

Amor
É um sentir indefinível
Concreto e abstracto
Certeza inabalável
Que
De tão certa e segura
Quando a dúvida, bate á porta
vendo-o sorrindo
Sorri também

Rui Santos

coisas de mim

Não te vás
De mim
És mais que possa dizer
Laço apertado, entrelaçado
Fonte de frescura renovada
Em lava esculpida
Desafio contínuo, ao verbo
Como rio de sangue, escarlate
Espraias em mim
Sedento de ti

Mais e mais, quis
Sem mas nem quês
Subi a colina, frágil, de medos
E vivi, em teu tempo

Vieste
Singela, como sempre és
Deste-te
Em dias e noites, de risos contínuos
Brincamos na madrugada
Trocamos sabores salgados
Na esperança de perdemo-nos
Em paragens abertas, ocasos
Onde renovos brotam em cada palavra
Viajamos, sem rota marcada
Um dia, uma noite, um fôlego
De cada vez

Dei e recebi
Minutos por horas
Partidas por certezas
Manhãs por rosas
Chegadas por desertos
Morei no tempo, sem tempo
E do tempo caí
Em horas brancas
Perdidas, atadas
Permaneço, cruzando margens
Buscando a palavra
Mágica, conveniente
Cómoda, indolor

Sonha, sonha, sonha
Que o sonho comanda a vida

Rui Santos

poesia

Poesia
é a vida sorrir
é a cumplicidade da palavra, não dita
pensada, esboçada
desenhada na areia
que qualquer onda desvanece

Poesia
é a força de viver
de quem vive por amor
é a força de querer
sempre lembrar,
o beijo por dar
a palavra por dizer

Poesia
está aqui
serena, expectante
pela mão que a desperta
em cada tropeço fútil
de mais uma volta vã
contudo, paciente
solta-se, num sorriso fácil
e dá-se, sem medo, nem pudor
a quem a quer receber

Poesia
amiga de noites claras
apaziguadora de dias molhados
intérprete lesta de segredos
assomas por veredas e atalhos
em riachos límpidos, de vida
induzes, sem revelar
roças, sem tocar
luz, cor
manta, que nos aquece
quando o sol se vai
por tempo sem tempo
obrigado poesia

RuiSantos

domingo, 21 de junho de 2009

é urgente

é urgente
varrer os sótãos bafientos
de passados descentrados
em lições perdidas de prazo

é urgente
comprar os dias vagarosos
e ler os instante magníficos da vida
sorvendo-os como água límpida
de um oásis distraído

é urgente
fugir do toque da batida cadenciada
que tenta enlaçar, sufocar e julgar
num inócuo ondular estéril e seguro
como cova inerte e escancarada

é urgente
cantar a ousadia, de rasgar o doce cerco de lamentos
rompendo o coro de intenções simpáticas e perdidas
e reconstruir, edificar e alavancar
cada pedra quebrada e descorada
por tombos fechados e datados

é urgente
suprimir, findar e combater, os pré conceitos
estúpidos e inúteis, de cor, origem e poder
comprados em saldo, ou oferecidos, como excelso tesouro
a quem não sabe o que é a essência da vida

é urgente
ouvir os silêncios, de concelhos sábios
que falam, do que a multidão não sabe,
nem virá a saber
e ensinam o segredo do que sou, o que quero
onde vou

é urgente
sentir sempre, um arrepio, níveo e virgem
em cada sorriso fácil e solto, oferecido por uma criança
e que me recorda, o que o inato construtor de sonhos
que sou, e serei

e sim,
é muito urgente
em cada passeio de mão dada
desenhar na brisa da tarde
um desejo, uma loucura, uma canção
e dizer sem pressa, num lento sussurrar
amo-te

RuiSantos

quinta-feira, 18 de junho de 2009

gotas que rolam

Rolam as lágrimas
porque mais, não sabem fazer
senão rolar, sem querer.

Sentem o mundo
com o peso de mil almas
e nada mais podem dar
senão o afecto
transbordande e incontrolado
de almas sem lugar
Não são deste mundo
nem por cá, ousam ficar.

Um dia, quem sabe
talvez encontrem
um lugar
o tempo certo
o nimbo excelso
o oásis, sem fim
o tempo sem mácula
sem passado bitolante
sem regra aferida

Apenas...
a liberdade
de viver feliz

Apenas...
a oportunidade
de ler mais uma página
na sebenta da vida
sem nada a provar

Sim
rolam as lágrimas
porque são livres de rolar.
Quem segura uma emoção?
quem laça um gostar?

Amar.
Quem entende esta afirmação?
Quem afina, pelo mesmo diapasão?
Quem se dá até ao fim?
Quem esquece a razão?

A ti
Sim, tu
que me lês.
Para ti, singro nestas palavras
que te são amenas
serenas, suaves e doces
e para mim
quentes, incontidas, e parcas
e deslizo, emperrado
em horas, de minutos
e em dias, de noites
para te ver
ter
dar
o que guardo em tesouro
o que tenho por diadéma
o que sou, sem saber
um grito, neste peito
uma terra de sal
por verter

Não, não sou deste mundo
sou da ilha da alegria
da esperança, confiança
e um toque de utopia

Onde as lágrimas rolam
por não poderem dar
nada mais que lágrimas,
livres
neste imenso
amar

RuiSantos