segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

conversas


- que fazes?
- nada, estou enrolado em pensamentos.
- sim? Em que pensas?
- coisas…
- já vi que não estás falador. Chateado?
- não. Não se passa nada, apenas estou cansado de viver sem saber bem para onde vou.
- como não sabes? Tu que és seguro e tens resposta para tudo... Como não sabes?
- não sei nada. As nossas conversas levam-nos sempre ao mesmo ponto de partida. Sabemos dar conselhos, mas para nós, a insegurança é constante.
- o que te preocupa? Já sei, estás com saudades de casa, é isso?
- não posso negar algumas. Tenho saudades de um lar, uma família, uma partilha de sonhos e afazeres.
- tens amigos. podem ajudar a passar a solidão.
- eu sei
- é mais simples ter um amigo que ter uma relação. È aborrecido ter de dar explicações sobre o que se faz, onde foi, com quem foi, etc…é um adeus á liberdade, e depois, acabam sempre mal. Com uma traição. Não, não me voltam a apanhar nessa esparrela.
- tolice. Os amigos não substituem o amor, se bem que sejam o nosso apoio, quando tudo cai. Nem sei como seria viver sem amigos.
- sim, são mais generosos e dedicados. A amizade dura para sempre. È menos complicada. Se estiver um dia sem te falar, não há problema por isso, se for a tua namorada que passe o dia sem te dirigir palavra, começas a pensar que algo está mal.
- e não é para pensar? Quando se gosta, as palavras são poucas e o tempo escasso. Cada momento esquecido, é um momento perdido.
-è desse sufoco que não gosto. Prefiro a amizade, é menos complicada e mais segura.
- deixa-te de desculpas, o que tens, é medo. Medo de assumires uma relação. Medo que ela acabe. Medo de sofrer.
- sim, tenho medo. Não quero sofrer mais, com nenhuma decepção. Já bastam as que a vida me deu. Todos os sonhos foram levados numa vida de sofrer. Não, não vou voltar a passar pelo mesmo.
- acabamos por voltar sempre á mesma conversa. Tanto me dizes que queres viver o que a vida te deve, como recuas para o teu canto e te fechas em gavetas de sentimentos.
- já me conheces, sabes o que quero e o me que me assusta. Na verdade… não sei o que quero, nem o que fazer.
- o que queres é fácil de adivinhar. Ser feliz
- sim. Mas… como?
- vivendo
- è o que faço
- Se vives, porque te queixas?
- não comeces com essas perguntas, sabes que estou bem assim, e para mais, tenho a amizade que basta para preencher os momentos vazios.
- não. Não pode nem deve bastar. Tem de existir algo mais. Um brilho no olhar. Uma loucura que se faz, Um arrepio de saudade de um dia á beira-mar. Um local. Uma história partilhada. Mais tem de haver. Apenas a amizade não completa a vida.
- eu sei… mas gostar… dói. Não quero sofrer mais. Basta. Muda de conversa.
- está bem. Do que queres falar?
- dos teus pensamentos.
- que têm?
- deixam-te triste. Como amigo, tenho de te animar.
- não consegues, não é algo que a amizade resolva. Posso deitar a cabeça num
travesseiro para dormir . Mas é da almofada macia que preciso. De adormecer no calor partilhado. Acordar com quem amamos, é um momento sem palavras.
- és sempre o mesmo. Um poeta com palavras fáceis. Que te prende para seres feliz?
Tens quem goste de ti, porque esperas? Se não arriscares, perdes a oportunidade de vez
- argumentas com as minhas palavras?! Fazes me rir…
- comigo é diferente, eu não quero ninguém, estou muito bem assim no meu canto.
- faço de conta que acredito mas nem a ti te convences. Ou esqueces os desabafos em que te queixas dos gritos do silêncio?
-São momentos, em que me sinto só. Gostava de viver a vida que me foi negada. Tenho os meus dias, em que quase desejo ter alguém para partilhar a vida. Mas passa depressa.
- acabas por me dar razão, no fim de tudo.
- não. Sou um caso encerrado. Muda de assunto. Fala-me de ti.
- estou a desembrulhar pensamentos, nada de mais. O tempo passa e ainda tenho pontas por desatar.
- somos complicados. O melhor é beber um copo e não pensar muito no assunto.
- sim, mas antes, vou enviar mais uma mensagem, pode ser que ela responda ainda hoje.
- sempre o mesmo.
- nem sempre.
- já pensaste escrever sobre o assunto?
- já. Talvez um dia o faça, quando souber o que dizer.
- que título vais dar?
- conversas.
- não escolhes nada melhor?

ruisantos

amor

o que se vê de olhos fechados,
o que se ouve num sussurro silíbante
o que se veste
num roçar desabrido
é amor
inconformado, renitente
invadindo cada pedaço
incauto de vida

rs

domingo, 28 de dezembro de 2008

encantamento

M,

Curioso o que se passa comigo. Vejo-me numa posição em que não estou, como habitualmente, em controlo da situação, mas sim ao sabor das marés. Desde o primeiro momento em que te conheci, senti-me fascinada, mas recusei dar demasiada importância ao que sentia, pois sou possuidora de uma curiosidade mórbida e tantas vezes imprudente que me leva ao envolvimento excessivo na vida de outras pessoas.
Contigo tive o cuidado de pouco perguntar pois o meu maior interesse consistiu em olhar-te. Pareceste-me misterioso, oriundo de um mundo totalmente diferente do meu, com esse ar de quem tem no seu interior uma criança em residência permanente. Um pequeno atrevido que tem que ser controlado para não cometer imprudências, embora por fora esteja em controlo um homem maduro.
Ainda hoje gosto de te contemplar o rosto, os teus olhos lindos de um melodia indefinida de tons, o teu sorriso aditivo, a tua voz profunda, lenta, e suave, os teus lábios carnudos e apetitosos, um nariz perfeito e umas longas mãos. O teu gosto e o teu sabor tocam a minha alma, fazendo com que me perca num mar de desejo.
Cada vez que estamos juntos, consegues sempre acelerar o meu coração e tirar-me o fôlego, apertando-me com os teus braços, sussurrando devagar nos meus lábios, percorrendo o meu corpo com as pontas dos teus dedos, fazendo com que sinta calor quando está frio.
Embora nem sempre o pareça, sou uma mulher prudente e é por tudo isto que te receio, não por ti, mas por mim, pelo que me permites sentir e sonhar.
Que me lembre, nunca me senti tão encantada e seduzida por alguém que conheça tão mal e com quem tenha tão pouco em comum, sendo por isso que continuam a pairar dúvidas e foi accionado o controlo emocional, se bem que tens revelado um talento muito especial para o destruir.
Em pouco tempo tornaste-te especial sem que eu consiga explicar porquê, pois nada tem a ver com a razão...com o raciocínio lógico. É sentimento puro, que me faz silenciar na tua presença, que faz com que sonhe contigo e a memória de ti perdure em cada dia que passa. Aguardo ansiosa, cada oportunidade de estar contigo, pois nenhuma posso perder. As horas parecem minutos, quando me apertas nos teus braços e poiso a cabeça no teu ombro. Dure o que durar, que possa ser sempre intenso e lânguido, que seja pleno de sentimento sincero e desejo inolvidavel.

MP

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

quanto


Quanto custa?
Partir
Rolar na estrada
Soltar amarras
Viver
Sentir o sabor do vento
Em trémulas asas, de luz
Voar
Alto, distante, errante

Qual o preço?
Da liberdade, incontida
Da vida, assumida
Da paixão, descarnada
Do rosto roçando a lua
E o sol caminhando
Nas rugas da tarde

Qual o peso?
De uma lágrima, de raiva
Caída no chão, de asfalto
De um ai, em silêncio
Na vergonha dos dias
De uma gota de água, turva
Sorvida, sem parar
De perguntas amargas
Em respostas suspensas

Quanto vale?
Um dia
Um momento
Um beijo na lágrima, do tempo
Um caminhar uníssono
De mão na mão
O amor
Que se faz no chão
E dói, e queima, e sufoca

Quanto dás?
Pelas memórias, coadas
De dias perfeitos
Pelos sonhos de sonhos
Suados e repartidos
Pela vida de perguntas, sem retorno
Pelos carinhos, por trocar
Pela espera, no vazio
Pela promessa, por saldar

Não fujas
Não tens por onde
Não escapas á vida
Sombra quente, colada em ti
Que grita em surdina
Liberdade, ao cativo
Sentindo os grilhões
Penetrando a alma

Quanto dás?
Por ti
Uma noite de sol?
Um dia de paz?
Uma resposta adiada?

Não importa
Se te enleias na busca da razão
E trocas os dias pelas noites
Se buscas todas as respostas
E esqueces as perguntas
Se a tua concha é segura
Mas te aprisiona, indelével
Com teus fantasmas, extintos

Não importa
Senão rasgar a página do tempo
Que segura a tua fuga
Sentir de novo, quem és
Voltar a ser criança
Deitada, em sonhos encantados

Não importa
Quando se perde a razão
À vontade submissa
De uma porta fechada
Indolor, constante, vazia
E a vida negada, pelo medo
Permanece expectante
Até ser
Tarde de mais

Nada importa
Senão viver

Sê feliz

RuiSantos

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fugas


Carta a A,

Já me tinha esquecido da forma como sempre me sinto bem contigo, mais leve, mais espontânea, mais livre para ser eu mesma, sem que por isso seja permanentemente julgada e sumariamente condenada. Sei que és talvez a única pessoa que melhor me conhece, mesmo aquelas minhas facetas das quais nem, contigo falo parecem pesar sobre mim. Contigo o dia termina sempre bem. Rejuvenesço e esqueço tudo e todos que me afligem e destroiem. Posso apenas ser quem sou pois estou segura de ser aceite e do prazer mútuo que temos em estar, em todos os mais pequenos e insignificantes gestos, os quais são afinal a vida real.
As nossas fugas sempre foram feitas em conjunto ou com uma grande cumplicidade. Entre nós não se disputa liderança nem existem desejos obscuros e preversos de dominação ou manipulação, e quando a vida nos magoa, sei que o teu ombro é garantido como mais nenhum e sei também que o meu estará sempre disponível quando precisares.
De todas as nossas “fugas” conjuntas eu mantenho memórias inesquecíveis.
Não sei bem porque razão, mas uma em particular delicia-me com frequência. Não me lembro do nome do local, mas vejo-nos com a maior clareza e detalhe, transportando-me como se lá estivesse. Não sei se te recordas como eu, mas provavelmente lembrar-te-às igualmente bem.
Foi numa tarde de principio de outono que passeamos ao longo de um lago nos arredores de Bruxelas. Era uma tarde soalheira mas fresca, o lago azul e calmo com pequenos barcos coloridos, ledeado por extensos relvados verdejantes e pequenas árvores frondosas, entre as quais serpenteava um longo passeio que percorremos languidamente. Nessa tarde combinamos que a nossa velhice seria um dia passada em conjunto num cenário semelhante (sempre fomos duas miúdas), ao qual adicionaríamos umas mantas quentes e um baloiço de jardim.
Tu tratarias do jardim e remarias o barco, enquanto eu me baloiçaria lendo um livro, ou vociferaria disparates incessantes da proa do barco. Claro que tu mandarias e eu seguiria, continuando eternamente fazendo as minhas habituais asneiras. Os filhos visitar-nos-iam, e os maridos...bom, penso que nos esquecemos momentaneamente deles! Seriamos viúvas ou estariam os seus papéis tão obsoletos que nem da sua existência nos lembrariamos?
Por final acertamos que teriamos um empregado que nos fizesse mordomias, ficando a última a morrer, responsável pela cremação da primeira a “abandonar o barco”.
Ainda hoje fecho os olhos, ouvindo e vendo a nossa conversa dessa tarde. Já lá vão nove anos, penso eu.


MP

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

desejos


sou livre de errar
em cada tropeço
enleado no sonho

sou livre de voltar
a cada lugar peregrino
visitado em mim

sou livre de beber
um sabor a mar amargo
na espuma de um dia findo


sou livre de partir
na senda da vela enfunada
derivando no ocaso, incolor

sou livre de ser uma ilusão
um erro sem solução
um rasgo sem razão

sou livre de aceitar
o desejo de mudar
e ficar sem direção

e

quando enredado
nos elos da vida
fria
torneado no rigor castro
e casto

grito em mim

sou livre

sem omissão

RuiSantos

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

felicidade


felicidade
é uma ilha de vento
soprada por ti
um rio de sonhos
que o tempo cativa
nas palavras insubmissas
da tua beleza incontida
renascidas
na dilação do tempo
composto e justo
por marés e montes
ondeados a par
em longas noites
de momentos
teus

ruisantos

amor

espaço transbordande
exíguo para o querer
desejo desatinado
que dói por não ter
palavra exuberante
garrida e amena
que pinte num instante
em tela serena
quanto do amor
chora só por ser
um desejo errante
dobrado num viver

ruisantos

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não


Não.
Hoje não digo palavras bonitas. Sinto a paz no silêncio que me cerca. Neste retiro entre batalhas.
Não.
Hoje não tenho a palavra certa na hora certa. Sou apenas eu, esta velha carcaça, cansada de batalhas ocas.
Sim.
São décadas de vivência errante neste labirinto que me enreda e questiona a razão desta cela onde tudo é permitido e a tudo me nego.
Não.
Hoje não me dou por etapas, nem me visto de seda doce. Apenas nu e cru, nesta caminhada por dúvidas, que moem de tanto saber ao que me conduzem.
Palavras bonitas. Frases redondas e perfeitas, à vista de quem as lê, são bálsamo para a alma, eu sei.
Bálsamos. Libertam a dor mas não curam este sofrer que moe e destrói, na espera da renovação, sempre adiada.
No limbo entre a noite e o dia percorro emoções e afectos, saciando espaços em branco que trago em mim. Como um dia de Outono, passei pelo Sol sem fazer morada e a chuva quente teima em cair, nega a sua existência.
Sim.
Como quente e agradável és tu, Sol.
Não.
Hoje não quero pensar. Invejo quem não sente, não se dilacera em questões espúrias sobre a sua existência nesta barca. Navegam por calmas águas, na confiança do seu capitão, o tempo, cuidará do rumo a tomar.
Viagem sem regresso, não escolhida. Aportando a enseadas, seguras e serenas.
Num lapso de tempo, repouso entre sombras e vejo as tempestades vindouras, em setas sufocantes de palavras amargas.
Fujo de ti barca, pesada, romba, que recusas em partir. Fujo de ti como se foge de um sonho mau, que sufoca.
Fujo de ti barca, de restos usados, fragmentos de afectos e doces sorrisos simpáticos, mas não a cura para esta dor que me leva a não continuar seguir rio abaixo, sempre jusante, até te encontrar. Corrente forte, imensa, que me impele para a foz, para o fim certo, que todos pretendem ignorar.
Sim.
Sei que nos encontraremos num plácido lago de águas translúcidas, onde te verei com nitidez e nada será como era.
Sim.
Sei que tudo é um mero passeio de ao longo das margens de um rio. Sou um passageiro inconformado pelo lugar que me coube em sorte, rodeado de cheiros acres e fétidos.
Sim.
Esse o lugar que habito, como clandestino. Subo ao convés e permaneço incógnito, levando o bilhete que um incauto distraído esqueceu na sua esteira beira sol.
Bonitas são as margens deste rio. Sol e mar. Risos e aromas. Margens de sons trepidantes em contínuo reboliço. Poderei sair por segundos e conhecer um pouco mais que águas paradas que por demais me revejo? Terei a permissão? Terei a ousadia de visitar outra margem, sem fazer morada entre os que ousam pernoitar? Terei esse rasgo de gozo, e partir desta barca cinzenta, voltar a subir o rio, para espanto de quem me segura? Para meu assombro?
Não.
Hoje não quero dizer palavras bonitas, vou para a minha cama de rede e baloiçar um pouco mais, neste porão de cheiros e sabores confortavelmente adquiridos em décadas de viagens.

RuiSantos

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pela Frescura da Manhã




J,

Tenho andado por aí, fazendo a vida rotineira até que ontem saí de casa logo pela manhã e deparei-me com um dia soalheiro e um céu azul, daqueles que parecem estar mais distantes da terra do que é habitual. A ventania da noite havia já acalmado. Sentei-me na esplanada e pedi o costumeiro café e uma água tónica, um vício recente, não passando de mais um daqueles meus fervores passageiros que tão bem conheces.
Foi então que me apercebi que estava só... Sózinha na esplanada e na rua inteira, pois nem um carro esporádico passava. Não posso precisar ao certo quanto tempo desta serenidade passou, talvez quinze minutos ou meia hora, os quais sorvi com uma intensidade e bem-estar que já há muito não sentia. O sol, a frescura da manhã, o silêncio e a acalmia pareceram perdurar por mais tempo, bastando para carregar as minhas baterias para todo o dia.
É sempre curioso que seja em momentos como estes que invades o meu ser. Sinto a delícia de partilhar contigo este silêncio e esta paz, ambos sentados na esplanada com as cadeiras bem juntas, olhando em frente para um ponto inexistente. Quem passa por nós pensa que estamos zangados, sem falar, sem nos tocarmos nem sequer trocar um olhar que seja, porém escapa-lhes a nossa descarada cumplicidade silenciosa e secreta. Depois aquela troca de olhares, sinal para que ambos nos levantemos da mesa em silêncio, seguindo um caminho que apenas nós sabemos onde nos levará.
Nunca coloco alternativa senão seguir os teus passos e caminhar a teu lado, até entrar para o carro e fechar a porta. Aí o mundo torna-se subitamente pequeno e acolhedor, parecendo que só nós existimos e nada mais nos preenche a memória. São os nossos preciosos momentos, roubados à vida e saboreados lentamente . Trocamos olhares e inclinamos a cabeça um para o outro, de uma forma natural, fechando os olhos para trocar pequenos beijos provocadores, dados e recebidos em lábios húmidos e frescos, dizendo sempre muito mais do que palavras.
Pões o carro a trabalhar e ambos colocamos os óculos escuros, protegendo assim a vista do brilho intenso do sol sobre o mar. É quase sempre para o mar que nos dirigimos, não é? Ambos necessitados da sua vastidão e sensação de liberdade.
Gostaria sempre de passar mais tempo contigo, mas sei que é impossível, pois os nossos escassos momentos são já roubados e a nossa relação sempre foi baseada nesta premissa. Representaremos sempre um para o outro, os momentos de desejo, cumplicidade e afecto sem qualquer cobrança mútua, aceitando aquilo que cada um tem e pode dar de si próprio. Apenas aquilo que cada um de nós é, e não aquilo que poderiamos ou desejariamos ser.
Hoje desejei estar contigo e paradoxalmente, assim o fiz, para tal bastando fechar os olhos e sentir o calor do sol na frescura da manhã. Sinto que também pensaste em mim, pois eu senti-te com toda intensidade.


M P

Além



é bom acreditar
é lindo acreditar
é necessário acreditar

além do espelho
estão as asas
de cores livres

além do monte
está a seara serôdia
ondulante por colher

além das sombras
está a vida
que não pára
nem demora

além do medo
está a força seca
que o rasga rente

além da distância
além do tempo
estás tu
perene
esperando por ti

ruisantos

pensamentos

pensamentos
livres como o vento
têm a força de mil marés
rasgam muros de cimento
sussuram a teus pés

rs

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

pássaro que voa


Pássaro que voa
Precisa de asas
Como o dia
Do céu azul

rs

domingo, 30 de novembro de 2008

olhares

lágrima que dói
razão que chora
momentos da alma
perdida numa hora

páginas de um livro
escrito entre margens
em olhares perdidos
feitos coragem

lágrimas que doem
por não poder rolar
são mais sentidas
que um simples chorar

Rui Santos

sábado, 29 de novembro de 2008

Coisas da vida

Fiz chorar
Chorei
Fiz sofrer
Sofri
Dei
E recebi

O que é a vida?
Sem nós por desatar?
Um deslize domingueiro
Num imenso mar

Uma floresta florida
Numa tarde de verão
Um momento quente
Tostado na solidão

Uma volta de revolta
Quando se tem de dizer
Não
Uma lágrima caída
De um sorriso
Na mão

O que é a vida?
Um beijo colorido
Pintado no sol pôr
Um aroma inalado
De palavras de amor

Uma meta obsoleta?
Um medo latente?
Um abraço amigo
Que afaga e entende

Esgotei as respostas
Em todas errei
Aprendi que a vida
É mais do que eu sei

Mais que uma lágrima
Rolando
Ou um beijo
Apagado
Sei que a vida
É um momento
Inacabado


rui santos

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

acreditar

acreditar
é sacudir o marasmo
que sufoca a vontade de sentir

limpar o passado
de restos inúteis e frios

saber que o sol nasce rubro
em todas as direcções
e o dia se azula
na vontade de o ver

acreditar
é sentir a liberdade
de viver

ruisantos

balanços

naquele dia, ameno de palavras
os sentires eram solidão
viviam de invejas roubadas
lidas em sabores de ilusão

perguntei-me ao que vinha
não me soube responder
era uma lancha vazia
á espera de perecer

são momentos de balanço
são momentos de solidão
quem me entende neste laço
que me roi o coração?

serão sempre os amigos
que amparam e seguram
com sentires tão queridos
que mitigam a amargura

e regresso ao desejo
insano e urgente
de ter mais que palavras
que não bastam
a quem sente

ruisantos

sonhos

muito se sonha
e pouco se faz

e muito se faz
sem sonhos

faz a vida sonhando

porque a vida
é um sonho

rs

amor é

o amor
é uma fera amansada
que julgamos domada
até o dia chegar
solta-se de sopetão
escapa-se da mão
e começamos a amar

rs

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

mar de sentires

no mar dos sentires
não há porto seguro
há ventos por cumprir
e desejos em apuros

não tenhas em recato
cada vontade queimada
solta-te livre em desacato
e parte, á desfilada

no mar dos sentires
a vida corre lesta
em metas por abrires
cantadas numa gesta

mais que sonhos sentidos
ou gritos por calar
clama os silêncios feridos
desse imenso mar

ruisantos

sábado, 15 de novembro de 2008

renovo


na nudez dos meus dias
lavo a alma em terras alheias
singro parco de sentires
em rotas perdidas e néscias
rs

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

somos


somos água em carne viva
somos rios de rubra esperança
mais que palavras vadias
semeadas no acaso da distância
somos gritos ligados
por ermos de abundância

rs

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

cartas rasgadas


nas veredas e recantos
passo por encantos
caídos da vida
foram cartas rasgadas
por muito adiadas
em sortes perdidas
rs

cartas rasgadas
reflexos de desejos
sonhos efémeros
que por breves instantes
tocam a realidade
deixando momentos
para a eternidade
mp

como se move o coração
quando a pena é destra?
como se vivem sombras
quando o eco é forte?
com sonhos pingados
numa colher dourada
sobre brasas forjada
turgida, na tua mão
rs

terça-feira, 11 de novembro de 2008

íris




no fim do arco íris
há uma porta colorida
no cais da partida
para o mar dos corações

tem uma lenda escrita
por ninguém ainda lida
onde estão as ilusões

estão no mar colorido
muitas vezes vivido
refreado de emoções

comprado num desacato
entre tempos tombado
mora o mar
dos corações

rui santos

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

carinhos


no sentir de um afago
a vida é um lago
de calor e ternura

caiem silêncios calados
em dias rolados
lestos de candura

rs

nostalgia


A

Por vezes sinto uma certa nostalgia de falar contigo, A. Não sei explicar porquê, nem é jeito meu prender-me a questões fantasiosas.O teu mistério, os súbitos desaparecimentos e o segredo, não me deixam de forma alguma fascinada...sou demasiado crescida para tal. As coisas demasiado difíceis, desmotivam-me. Sou frontal...não tenho tempo para ser de outra forma e reconheço ser grande o meu defeito de intolerância perante tudo o que demora. Lembro-me do tempo em que refilava e contestava. Hoje não o faço, pois já nada existe que mereça de mim esses esforços...hoje observo, oiço e viro as costas afastando-me em perfeito silêncio. A minha invisibilidade e aparente tranquilidade tornaram-se uma arte cada vez mais refinada. Uma senhora sabe ser discreta, talvez por motivos diferentes, mas todavia com resultados idênticos. Escrevi...desculpa os erros, mas escrevo com um dedo--o indicador direito--a mão esquerda apoiando a cabeça, sempre em posição obliqua...uma madeixa de cabelo castanho caída entre os dedos enquanto o restante cabelo permanece obedientemente preso com uma mola....depois do banho, um aroma a limão e jasmim.... Estou de cama com gripe...para a semana terei a minha última saída para o estrangeiro---vamos, vem comigo?
beijo


MP

descoberta


A

Não sei mesmo se tenho muito para descobrir pois sou daquelas pessoas que tem constatado que na vida já tudo foi descoberto e limitamo-nos e observar repetições com pequenas variações com as quais vamos aprendendo. Aprecio pessoas simples, mas rapidamente constato que me cansam, que se subjugam facilmente, que se sentam ao meu colo e tentam ser interessantes e originais, talvez para me impressionar...não sei. Como todos nós, gosto de um bom mistério, mas quando é demasiado longo e arrastado, perco o interesse (sou das poucas pessoas que em nada se incomoda de não ler o final do livro) e desiludo-me com demasiada facilidade. Tenho as minhas paixões...o silêncio e a solidão, a música, as palavras, particularmente aquelas que não digo mas escrevo. Impulsiva? Demasiado e receio que nunca mude. Também me custa sempre acreditar nas pessoas pois sei por experiencia que mentem e são dissimuladas, não por mal, mas por inseguranças próprias. Mas sou uma mulher bem-disposta, embora bem mais complicada do que possa parecer e do que os outros parecem desejar...mas sou assim e não me vejo a mudar. Falas-me em Kant....tantas noites passei com ele em anos passados. Tantas que me fartei, preferindo pensar por mim por mais erros que cometesse. Eu, uma eterna insatisfeita que ainda hoje se massacra para sentir. Tem que haver algo mais forte pois a vida não pode ser apenas branda e previsivel...e como vêz, a esperança por aqui nunca morre, mas quando as coisas demoram faz-se sentir a minha urgencia e a minha premencia em avançar...nem que seja para o vazio do abismo. Enfim...tudo menos isto. ps: acho uma delicia que sonhes...eu já nem me lembro o que isso seja, mas faço-o acordada para ver se consigo arejar a cabeça.

Um final feliz. Será?

Um beijo final, ou feliz, não sei... MP

razão de sentir


JL,
E um dia vamos conhecer o desconhecido em cada um de nós. Um dia, quando já não existirem receios, quando foram passadas todas as provas com aprovação e já estiver minimizado o risco da saturação, racionalizado o sempre-presente risco de traição e negadas as necessidades de vingança.
A indecisão pairará porém, pois estes riscos estarão sempre presentes no imaginário de uma relação entre um homem e uma mulher, seja ela de que caracter for. Esta é particularmente especial e delicada.
Mas há que acalmar as fantasias mútuas. Ou vivê-las enquanto gestos desejados de prazer inconfessável e secreto. Ou fugir-lhes por não serem afinal aquilo que se imaginavam. Um fugir airoso sem deixar feridas sangrantes ou pegadas de lama sobre algo que poderia ter sido de uma beleza inesquecível.
Por enquanto mantenho a esperança de que poderá voltar a ser algo sereno e gostoso, de uma intimidade fácil e despojada, da qual se suga a energia para enfrentar o resto de um dia. Essa vida que tanto nos tira em troca dos bens materiais que acumulamos, tantas vezes estupidamente sem que com eles saibamos adquirir sensações ou partilhar sentimentos de ternura e carinho.
Temos muito em comum, mesmo que pouco partilhemos. Iremos sempre ter muito em comum...coisas e sentires dos quais não será sequer necessário falar pois ambos sabemos bem do que se trata e como o sentimos. Mas será que essa partilha não nos ajudará a arrumar a nossa realidade? A de cada um individualmente, e aquela que tanto falseamos entre nós; talvez seja mais útil varrer os fantasmas da alma e só depois nos sentarmos para olhar olhos nos olhos, sorrir e mergulhar nas tansgressões um do outro.
Poderemos então gozar o mesmo sol? A mesma areia entre os dedos dos pés? O mesmo aroma do mar prateado? O mesmo campo verde salpicado de papoilas? E quem sabe o mesmo lençol branco enrolado nas pernas entrelaçadas.
Os lábios num só beijo quente e terno, doce e perturbante, quando já pouco se espera voltar a ser perturbado ou tornar a sentir calor sem sol.
A minha mão na tua? Quem sabe? Fosse como fosse, seria algo que me saberia bem, ideia que acalentaria com o maior agrado. Sempre sem compromissos mas com convicção.
Partilhar o meu silêncio contigo seria sempre partilhar o que de mais intimo possuo....aquilo que muito raramente ofereço. Seria fechar os olhos e abrir os braços numa praia deserta, tocada pelo vento e batida pelas ondas. Seria acolher-te em mim tal como és, sem nada alterar e sem mais nada desejar que não viesse do sentir que passasse entre ambos.
Desejar não apenas o que se vê, pois a beleza exterior é efémera e subjectiva, mas ansiar pelo todo, pela delicadeza e nobreza dos sentimentos e pelo fogo que tão violentamente ardeu.
Que pena tanto tempo perdido. Que pena não ter chegado primeiro. Que bom que é descobrir a tempo. Que bom vir depois de todos e saber colher a ternura e carinho tão bem concentrados com a experiência dos anos. Espantoso como ninguém colheu o teu tesouro.
Façamos então estragos na vida um do outro. Estragos que nos tragam aquilo que de bom merecemos, enquanto guardamos e protegemos aquilo que de melhor temos feito, deixando o resto no passado.
No final, cansados mas satisfeiros, retomaremos a posição que nos foi destinada no mundo e nesta vida, sabendo no entanto que protegeremos sempre o que de especial existe entre nós.
Tu, o meu segredo e eu o teu sigilo absoluto.
Tu, o sol que me aquece o coração e o manto de estrelas que me cobre.
Eu, a presença constante e a manta quente que te envolve e dá, sem nada exigir, a segurança e a coragem.
Eu, o teu rasgar de horizontes para uma vida mais plácida.
Nós. Sabendo-nos verdadeiramente desejados e acarinhados apenas por aquilo que somos, quando já tanto nos exigiram e tão maltratados fomos... enfim chegados a um porto de abrigo e consolo onde o mal e a dor já não nos atingem.

MP

quero-te


P
Sai Daqui!
Quero viver para sempre. Na tua memória, no teu coração. Quero meter-me debaixo da tua pele permanecendo longe da tua vista, para que me tenhas sempre sem nunca me teres. Para te saturar os sentidos sem nunca de mim te cansares. Para estar sempre contigo sem nunca contigo estar.
Quero deixar-te intranquilo, invadindo inesperadamente os teus pensamentos sem que percebas como nem porquê. Quero-te mas não te quero, ficando o meu cheiro impregnado nas tuas narinas sem que alguma vez chegues a conhecê-lo conscientemente.
Quero estar longe ansiando pela tua proximidade, mas não quero aproximar-me.
Quero saber tudo de ti. O que fazes, o que pensas, o que comes, os aromas que respiras, o que sentes e aquilo que não sentes, o que ambicionas e o que sonhas. Quero ser o teu imaginário e o pano de fundo das tuas fantasias.
Quero estudar-te como se analizam os insectos sob o microscópio, para fixar-te de forma indelével na minha memória, cada ruga, cada cabelo, cada sinal, cada inclinação do teu pescoço, cada gesto das mãos e cada cicatriz no teu corpo sofrido.
Quero ter-te sempre presente onde quer que esteja, cada vêz que feche os olhos. Não me escorrerão lágrimas pelo rosto, mas surgirá um discreto sorriso nos meus lábios, significado do qual, jamais alguém saberá.
Se ficasses muito perto de mim, cairia para sempre nos teus braços e derreterias o meu coração com o teu fogo, abafando os meus gritos silenciosos de solidão, com as tuas palavras.
Mergulharia nos teus tímidos olhos castanhos para nunca mais voltar a ser eu. Mas isso meu amigo, jamais poderei permitir que aconteça. Jamais poderei admitir que sinto, pois tem sido tão dura a caminhada até aqui, que nunca mais poderei voltar a dar-me ao luxo da entrega, onde no passado me perdi por completo.
Por vêzes abandono-me por breves momentos, mas rapidamente volto a proteger-me, erguendo uma muralha e um fosso em meu redor. Sonho destrui-las e deixar-me ir com a maré, mas sei que nunca poderei fazê-lo pois o preço seria muito elevado...seria a minha própria liberdade.
No entanto eu sei bem que caio, comos todos nós, mas volto rapidamente a erguer-me, deixando para trás o coração e a alma, norteando-me pelo raciocínio lógico e pelo instinto de sobrevivência.
Sobreviverei assim, nem que me custe a própria vida. Desempenharei o meu papel com toda a aparente serenidade, até à última gota de sangue, desaparecendo finalmente da mesma forma como aqui cheguei.
Ninguém mais voltará a ter-me, ninguém voltará a conhecer o meu coração, ninguém saberá jamais quem foi que habitou este corpo.
Mas quero e foi por não poder ter que me encerrei nesta prisão que construi para mim própria e cuja chave engoli, para jamais ter a tentação de usar. Dentro dela construi uma máscara que uso hoje com mestria, mostrando apenas o que quero e posso a cada momento, recolhendo novamente à minha toca, à minha preciosa solidão para onde carrego todas as memórias... enfim, a bagagem de uma caminhada dura, de facto vivida e sentida.
Uma vida de acidentes fatais.
É o contraste de sentimentos opostos. A impulsividade temperada sempre a custo. O receio da exposição e a recusa da dor sempre inerente à rejeição.
Resposta a uma forma de estar, sentida sem direcção a ninguém, apenas com sentimento. Só um texto. Só uma mulher. Apenas uma vida.

MP

um dia


Um dia...
um dia gostaria de poder falar contigo, de ouvir a tua voz.
Um dia gostaria de poder silenciosamente observar-te, recolhendo de novo à minha invisibilidade para não afectar de forma alguma tudo aquilo que me encanta.
Um dia, se alguma vêz tivesse aquilo que desejava, provavelmente não saberia o que fazer, tal o tamanho da minha surpresa.
Um dia são todos os dias...sempre iguais, sempre terminando com a vaga sensação de insatisfação, com a noção de que existe algo a fazer que nos é vedado, que é e será sempre uma impossibilidade.
Um dia que não seja apenas chegar ao fim para aguardar mais um dia igual, sem memória e sem desejo.
Um dia existirá alguém que me permita olhar para cima e não apenas para o lado.
Um dia será que serei capaz de gritar mais alto...ou apenas desaparecer na bruma da madrugada, para mais nada poder desejar. Mesmo quando achamos que as coisas existem, verificamos que são meros logros, algo cuja existencia nunca poderemos confirmar, algo incerto e talvez falso, que é apenas uma construção da imaginação. tens o meu fascinio integral

MP

pérola


Meu querido Z,
És uma das pérolas da minha vida. Mesmo à distância sem nunca interferir, procuro saber os teus passos e do estado do teu coração.
Olharei sempre por ti e espero a todo o momento que me digas "preciso de ti agora", pois quando tu cais eu sofro e quando te magoam sinto a tua dor e a desilusão. A tua tristeza nunca cessa de me atingir e o perigo que te rodeia, sinto-o como se fosse para mim.
Raramente te procuro, tu bem sabes, preferindo que sejas tu a procurar-me sempre que de mim sentires falta.
Gosto de te ver livre e feliz, mas sempre a pérola da minha concha, onde poderás recolher quando o mundo te maltrata. E isto, quero que o saibas para sempre.
Quero estar aqui presente para todos os maus momentos da tua vida, deixando-te gozar os melhores com aqueles com quem os queiras partilhar.
Por vezes sinto a falta da tua inesgotável ternura, do teu afecto e do teu riso contagiante, mas então fecho os olhos e a tua presença torna-se tão nítida como se estivesses abraçado a mim.
Não chores meu amor, nunca mais chores longe de mim, pois quando te apetecer chorar grita por mim e eu prometo que irei a voar.
Penso frequentemente em chorarmos juntos, não deixando de ser curioso nunca o termos feito. Só contigo poderia chorar, pois só tu poderias entender a tristeza e a solidão de cada lágrima e só tu me saberias acompanhar e confortar, sem nada perguntar...exigindo sempre tão pouco.
Bem sabes, que quando estamos juntos falamos de tudo, quantas vezes para evitar cair nos braços um do outro chorando lágrimas amargas de tristezas semelhantes mas nunca partilhadas.
Nunca mudes uma vírgula do ser humano que és, pois também eu sou um pássaro frágil e magoado, que necessita saber que há alguém no mundo que me daria consolo se eu não mais pudesse estender as asas e voar.
Hoje os meus beijos são teus.

MP 31/10/07

penso em ti

A,

Penso em ti. Nunca de uma forma obsessiva, mas a ideia de ti persiste sem memória e sem desejo, apenas pela troca de algumas palavras carregadas de carinho.
Sei bem que palavras leva-as o vento, como diz a sabedoria popular, porém, para ti eu tenho apenas palavras que espelham uma troca esporádica de pensamentos dispersos. Palavras de conforto que aquecem ocasionalmente o coração, até pela forma inesperada com surgem, após longos periodos de ausência.
Vidas paralelas , que, como tal, nunca se tocarão, mantendo no entanto, um conhecimento dos seus mútuos recantos ocultos, sem que alguma vêz se venha a conhecer a sua verdadeira realidade .
Nutro um gosto preverso por este tipo de "não-relação"e pelos sentimentos de uma realidade que permanecerá sempre noutra dimensão. Suficientemente distante para que me sinta protegida e não suscite a tão perigosa curiosidade, que sempre acaba por surgir com a proximidade.
Resta-me controlar um defeito que é apenas meu: a tendência para forçar a minha entrada na alma e no coração das pessoas, da qual me arrependo. Todos temos defeitos, e este talvez seja aquele que mais me prejudica.
Curioso e tranquilo é o facto de nada me exigires e de raramente abrires o teu coração, resguardando assim a tua intimidade, mantendo-te num plano da idealização e da ficção, como se de facto fosses um mero fruto da minha imaginação, ainda sem substracto ou conteúdo.
Como deves já ter-te apercebido, não sou uma mulher paciente, embora dê essa ideia de mim. Sinto sempre que o tempo urge e tudo aquilo que não se desenrola rapidamente, jamais acontecerá. Somos assim, algo desconhecido que nunca verá a luz do dia, que nunca acontecerá , pelas mais diversas razões que me recuso a elaborar.
Sejamos então uma leitura mútua.
Ocorre-me apenas uma ideia de um dia poder sentar-me contigo a ler-te um texto, enquanto permaneces de olhos cerrados, algures no campo. Quando terminasse talvez te desse um beijo em agradecimento, antes de partirmos de novo, cada um para o seu caminho, paralelos na vida, onde nada existe em comum. Sendo esta , uma cumplicidade com o desconhecido.


MP

sábado, 8 de novembro de 2008

viver

viver
é sonhar a felicidade
agarrar a vida em tons de vermelho
trincar cada minuto com beijos de paixão
selar o dique das águas moles
sorver o sal
renascente, insubmisso
negar a derrota fácil
inspirar rumos
para a além do visivel
correr, em ousadas ilusões perecíveis
preciosas como tu

viver
é secar as lágrimas com um sorriso
domar memórias inertes
enroladas em passados perdidos
semear saudades do futuro
em azuis campos de coragem

viver
é nos sussuros amordaçados
cantar a vida altissonante
troçar da fenda nocturna
com um simples bom dia
e ao sol deleitares
por te sorrir

viver
é um beijo
numa aurora
uma espera
sem demora
que nos faz acontecer

é um sorriso molhado
no tempo guardado
á espera de viver

ruisantos

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

sementes

cada lágrima,
uma semente

cada riso,
um fruto

um amor,
toda a árvore

rs

desejos

quando se quer
arde o desejo cativo
do não querer
alisa-se o fogo
em penumbra gritante
e a liberdade...
exulta, ávida de honra
refrea o desejo
mascara a dor
de quem quer
sem ter

rs

dor

dor
de ter
o que se não tem
dor
de ter
o que se tem
dor que rasga a alma
por saber
o que poderia ser
se fosse mais além

rs

luz

do nada se faz luz
do querer, nasce o sentir
sente a luz
na palavra que tarda em nascer
ilumina o espaço
e a vida renascerá
florida em ti

rs

alma aberta

de alma aberta
volto a ser quem sou
vejo a vida
com outro sabor

o entardecer
brilha renovado
ávido de fogo

cada recanto
desperta um encanto
esquecido na bruma

a noite ingrata
sorri frágil, quebrada
pelo amanhecer
de promessas agéis
sôfregas de vida

de alma aberta
vivo de novo
em constante remoinho

confronto sombras vazias
com leitos desassombrados

e fluxos confluentes de sangue e mel
transbordam irisados de afectos
por descobrir

de alma aberta
mas não certa
vou á descoberta
dos dias do porvir

Ruisantos

terça-feira, 4 de novembro de 2008

voa















Voa
na imensidão do impulso
emergente em ti

voa
no espaço abstrato
carente de ti

voa
no deleite incontido
pousado em ti

voa
no olhar de uma alma
numa história por lapidar
em sereno repouso, voa
o que importa, é voar

Ruisantos

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

saudade




saudade
é uma memória inacabada
uma cabana uma estrada
que acabamos por voltar

saudade
é um coração perdido
num dia adormecido
sentado á beira mar

saudade
é um beijo retirado
a um desejo guardado
encontrado ao luar

saudade
é tudo o que faria
se pudesse um dia
ao tempo retornar

RuiSantos

domingo, 2 de novembro de 2008

silêncio

silêncio...
é um lago de rubros pensamentos
que o tempo adormeceu
contudo
ânsias de liberdade
turbilham fluxos de carmins palavras
rompem diques de espuma
rasgam margens de vento
e as estrelas...
são tuas
no silêncio de um desejo

rs

sábado, 1 de novembro de 2008

palavras

palavras pressentidas
sabores antecipados
são telas escolhidas
de amores guardados

rs

moedas

quantas faces tem uma moeda?
quanto amor tem um desejo?
quanto ódio asfalta a estrada?
tenho moedas, redondas sem faces.
num contínuo rolar, amassam e confundem.
o amor, fica ferido
o ódio, amansado.
e as moedas,
continuam a rolar...

rs

fábulas

Tanto por viver
Tanto por sonhar
Vivo sonhando a vida
Criando fábulas, em tons de azul
Neste mar de choro e riso
Perdendo a conta terrena
As vezes que te amei, sempre
Criando muralhas de espuma
Que facilmente derrubas
Apenas por seres quem és
(quem mais sonha como eu?)
E sonho
Dia após dia
Viver de novo
Sem este espinho, polido
Que penetra, condena e consome
Questões sem horizonte
Etapas por queimar

Vida de sonho
Não te pertenço
Meus sentires e afectos
Não são teus
Passo por ti quando dormes
Na branca calada da noite
Como benigno caçador de emoções
Sou um sonho que sorri
Como tola e eterna criança
Que sonha não acordar
E ri de quem não sonha
Porque sabe um segredo
Que teima sempre em contar

Estar na vida sem sonhos
É correr sem nunca chegar

RuiSantos

livro em branco

Quem sou?
O tempo dirá.
Os dias que passam,
responderão por mim.
Se souberes ouvir o vento,
que nem sempre sopra certo.
Se esperares pelo amanhecer,
que por vezes tarda.
Poderás ver outro dia
escutarás mais uma fábula,
docemente sussurrada,
pela aragem da manhã.

Quem és
Não sei
Estou à porta, e bato
Nada tenho para dar
Apenas, um livro de ilusões.
Ainda em branco
Esperando por nós

RuiSantos

A Minha Caixa de Sapatos

A Minha Caixa de Sapatos

(excertos condensados de um livro por escrever)

Um dia acordei, certo que o dia iria ser mais um daqueles dias em que não me apetece fazer nada. Nada, nadinha, apenas estar deitado á espera que o tempo passe por mim. Olhava em frente e via uma enorme espiral que me puxava para o fundo do poço, onde tudo era negro, indiferente e sem sentido. A motivação estava de rastos, o amor-próprio, idem, e eu a ressacar de mais uma véspera de químicos e álcool.
É que isto de estar vivo, não é apenas viver, é também ter em metas a atingir, sonhos por lutar, no fundo, ter uma motivação que me faz saltar da cama, e rir para o dia que começa. Humm... querida alegria química, solução para tantos males da humanidade, sem ti o que pode fazer este rapaz?
- Torna-te sociável, sacode essa indiferença e põe um apresentável sorriso
– resmungava, na esperança de me ouvir – põe um lacinho na embalagem e vais ver que ninguém repara quanto estás vazio, por dentro. Mantém a aparência, rapaz, mantém a aparência. Bem sabes que a um cão caído todos lhe dão pontapés.
E assim acordei, sem vontade de fazer nada. Triste por dentro, frustrado, desejando que tudo não passasse de um filme de terceira categoria, onde o fim acabaria com esta lengalenga interminável. Ahh..., então é que seria a sério. Nada de cometer os erros do passado. Nada de perder a cabeça por coisas vãs. Apenas dar tiros pela certa e ir à luta quando a vitória fosse garantida.
O busílis da questão é que este mundo paralelo desmoronava-se, na proporção dos resquícios químicos que o meu corpo ia expulsando. Tornando-me ávido, de voltar a repor o nível, que permitisse voltar a planar, voar baixinho, como costumava dizer.
Mas nesse dia pus-me a pensar. – tens de dar a volta a isto, senão vais afundar de vez. Acaba com essa estupidez de pensares ser um coitadinho. Ninguém te agradece, antes dirão – pois é, ele até tinha problemas psicológicos, era difícil viver com ele, bem que fizemos o possível... etc, etc etc. – e se hoje fosses dar uma volta? Esquece os amuos, esquece as discussões, e perde o medo. O dia, por natureza já está estragado, pior não pode ficar.
Ora bem – disse num assomo de ousadia instantânea – hoje vai ser á minha maneira.
Primeiro, vencer o medo de arriscar a ser feliz. Sim porque a felicidade assusta, para quem se habituou a passar-lhe ao lado. – tudo bem, vai em frente, mal já estás, só podes é melhorar - encorajei-me timidamente. Pronto, está decidido, vou sair e que se dane o resto. Minha amiga de duas rodas e pedais, vamos dar uma volta até à praia, queres? Há tempos que não conversamos, em intimidade, só olho, com saudades dos dias em que íamos por aí sem destino. - Será que ainda tens pedalada para mim – atreve-se a perguntar com descaramento – sabida a menina... mas certa como sempre, as bicicletas têm sempre razão, nestas coisas do físico.
(continua)



É como estou
vendo sonhos distantes
Passam os dias, passam as noites
Quero-te,
Grito insano de tanto querer
Pelejo tonto, em batalhas espúrias
Centelhas de dor riem, sem parar
Vivo e sobrevivo
Consumo o tempo
Em renovos fluxos
E espero, na vaga que rola
O rio de beijos ocultos
Que acalmam e serenam
A ilusão do dia
Quedo e mordaz

Parto em desalinho
Esqueço quem sou
Vislumbro no ocaso
Espaços e memórias
Rompendo amarras
De promessas ocultas
Ondulando desejos
E veredas, sem destino
Sugam, a energia vital

Contudo
Sangue quente, ainda flúi
Veias carmins, seguram risos
E a vida escorre
Como gotas transbordantes
De mares distantes, e amenos
tornando, a ávidos lábios
Que se perderam, por querer

Tudo são pensamentos
Que em círculos se enlaçam
Em razões sem nexo
Por tudo e por nada
Mas
Sempre presente
Serás.

RuiSantos

és

Corro, corro
Fujo de mim
A noite e o dia
trocam sem fim

Procuro, no espaço
Encontro no tempo
A nesga de vida,
Que ri e dá alento
O dia vai alto
A tarde finda
Sempre estás em mim
Como bruma florida
Perco-me, perco-me
E deixo-me perder
Em insanas noites
Até o dia querer
Tanto e tão pouco
Salpicada de azul
Ensejos de fortuna
Soltos…
Rumam ao sul

Corro, corro
Saio de mim
Nasço da dor
De dias sem fim

Em tua cidade
Faço morada
No teu calor
Esqueço a dor
Como pássaro
Ébrio de luz
Estou em ti
Prados e rios
Deslizam sem fim
Mares e serras
Renovam-se sem quês
Apenas o vento
Trás as sombras do tempo
Do tempo
Que há-de vir.

RuiSantos

Nadas

Gotas de água enchem o mar,
Pequenos nadas constroem a vida
Gotas de água multicores
Formam arco íris, de utopia
Mudando as certezas inúteis
Em dúvidas errantes, de paixão
Gotas, lágrimas que o dia verte
Pela hora que passa
Horas que gritam
Horas que choram
No sussurro imponente do mar
Memórias de ondas, lisas
Em rios de gotas
teimosas em se unir
Acalentando sonhos e visões

Gota
Quanta falta fazes
Sem ti
O dia torna a um vazio de cinzentos
Sendo apenas
Pequenos nadas
Como nós
Edificando pontes sem termo
Com suaves trovas simples
Trazem noites e dias
À eterna certeza
Da paixão

RuiSantos

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

aromas

Visto a beleza
Na quietude de um sopro

Visto a beleza
No azul silêncio, murmurante

Visto a beleza
Nas palavras macias, do ocaso

Visto a beleza
No olhar irisado e sereno
De quem a vê

Visto a beleza
Em ti

RuiSantos

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

vida

no deslizar das palavras
no sentir ansiado
enrola-se a vida
a um sonho acordado

rs

domingo, 26 de outubro de 2008

descobrir

saber pintar
num sorriso soalheiro,
um sussuro adormecido
é a magia por descobrir
numa tarde de outono
uma vida por bailar

rs

pontes eternas

Quem és?
Que entras no meu sono
Pela noite, vagueias, em mim
E em ti me perco e reparto
Em reflexos, de palavras abertas
Rasgadas, sem pudor

Usas-me, uma e outra vez
Levas o que tenho por certo
Esta tarde calma e cinzenta
Onde adormeço e esqueço
A razão de gritar e viver
Nesta intrusa ilusão cruel

Se fosse o dono do tempo
Fazia uma pausa, por ti
Buscava no leito dos dias
Fragmentos perdidos de mim
Em desalinho de euforia e desejo
Leria lendas estranhas, absurdas
Baladas molhadas, de cores mil
E ébrios de palavras loucas
Tomaríamos o certo por incerto
Na longa noite amiga, benévola
Arca de sonhos e sentires
Sabendo que a aurora não tarda
E o dono do tempo o reclama para si

Quem és?
Que em mim fazes morada
Nesta estrada velhaca, de escolhos
Velha estrada de saberes, cingidos
Que o pó do tempo abraça, singelo
Tornando os dias em anos, esbatidos
Franqueias a entrada, esparsa
Revolves o pó, esquecido
Cuidas que és vento, incólume?
Mais um som, adormecido?

És...
Pontes sem margens, certas
Suspensas por palavras, lunares
Tecidas em telas soltas
Por lágrimas quebradas sem par
Águas revoltas são esquecidas
Pontes, eternas e ternas
Que entre palavras habitas
Sólidas, simples como o mar
Onde por vezes, grito ao tempo
Sim
Quero

RuiSantos