segunda-feira, 10 de novembro de 2008

razão de sentir


JL,
E um dia vamos conhecer o desconhecido em cada um de nós. Um dia, quando já não existirem receios, quando foram passadas todas as provas com aprovação e já estiver minimizado o risco da saturação, racionalizado o sempre-presente risco de traição e negadas as necessidades de vingança.
A indecisão pairará porém, pois estes riscos estarão sempre presentes no imaginário de uma relação entre um homem e uma mulher, seja ela de que caracter for. Esta é particularmente especial e delicada.
Mas há que acalmar as fantasias mútuas. Ou vivê-las enquanto gestos desejados de prazer inconfessável e secreto. Ou fugir-lhes por não serem afinal aquilo que se imaginavam. Um fugir airoso sem deixar feridas sangrantes ou pegadas de lama sobre algo que poderia ter sido de uma beleza inesquecível.
Por enquanto mantenho a esperança de que poderá voltar a ser algo sereno e gostoso, de uma intimidade fácil e despojada, da qual se suga a energia para enfrentar o resto de um dia. Essa vida que tanto nos tira em troca dos bens materiais que acumulamos, tantas vezes estupidamente sem que com eles saibamos adquirir sensações ou partilhar sentimentos de ternura e carinho.
Temos muito em comum, mesmo que pouco partilhemos. Iremos sempre ter muito em comum...coisas e sentires dos quais não será sequer necessário falar pois ambos sabemos bem do que se trata e como o sentimos. Mas será que essa partilha não nos ajudará a arrumar a nossa realidade? A de cada um individualmente, e aquela que tanto falseamos entre nós; talvez seja mais útil varrer os fantasmas da alma e só depois nos sentarmos para olhar olhos nos olhos, sorrir e mergulhar nas tansgressões um do outro.
Poderemos então gozar o mesmo sol? A mesma areia entre os dedos dos pés? O mesmo aroma do mar prateado? O mesmo campo verde salpicado de papoilas? E quem sabe o mesmo lençol branco enrolado nas pernas entrelaçadas.
Os lábios num só beijo quente e terno, doce e perturbante, quando já pouco se espera voltar a ser perturbado ou tornar a sentir calor sem sol.
A minha mão na tua? Quem sabe? Fosse como fosse, seria algo que me saberia bem, ideia que acalentaria com o maior agrado. Sempre sem compromissos mas com convicção.
Partilhar o meu silêncio contigo seria sempre partilhar o que de mais intimo possuo....aquilo que muito raramente ofereço. Seria fechar os olhos e abrir os braços numa praia deserta, tocada pelo vento e batida pelas ondas. Seria acolher-te em mim tal como és, sem nada alterar e sem mais nada desejar que não viesse do sentir que passasse entre ambos.
Desejar não apenas o que se vê, pois a beleza exterior é efémera e subjectiva, mas ansiar pelo todo, pela delicadeza e nobreza dos sentimentos e pelo fogo que tão violentamente ardeu.
Que pena tanto tempo perdido. Que pena não ter chegado primeiro. Que bom que é descobrir a tempo. Que bom vir depois de todos e saber colher a ternura e carinho tão bem concentrados com a experiência dos anos. Espantoso como ninguém colheu o teu tesouro.
Façamos então estragos na vida um do outro. Estragos que nos tragam aquilo que de bom merecemos, enquanto guardamos e protegemos aquilo que de melhor temos feito, deixando o resto no passado.
No final, cansados mas satisfeiros, retomaremos a posição que nos foi destinada no mundo e nesta vida, sabendo no entanto que protegeremos sempre o que de especial existe entre nós.
Tu, o meu segredo e eu o teu sigilo absoluto.
Tu, o sol que me aquece o coração e o manto de estrelas que me cobre.
Eu, a presença constante e a manta quente que te envolve e dá, sem nada exigir, a segurança e a coragem.
Eu, o teu rasgar de horizontes para uma vida mais plácida.
Nós. Sabendo-nos verdadeiramente desejados e acarinhados apenas por aquilo que somos, quando já tanto nos exigiram e tão maltratados fomos... enfim chegados a um porto de abrigo e consolo onde o mal e a dor já não nos atingem.

MP

1 comentário:

Alba disse...

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