segunda-feira, 10 de novembro de 2008

quero-te


P
Sai Daqui!
Quero viver para sempre. Na tua memória, no teu coração. Quero meter-me debaixo da tua pele permanecendo longe da tua vista, para que me tenhas sempre sem nunca me teres. Para te saturar os sentidos sem nunca de mim te cansares. Para estar sempre contigo sem nunca contigo estar.
Quero deixar-te intranquilo, invadindo inesperadamente os teus pensamentos sem que percebas como nem porquê. Quero-te mas não te quero, ficando o meu cheiro impregnado nas tuas narinas sem que alguma vez chegues a conhecê-lo conscientemente.
Quero estar longe ansiando pela tua proximidade, mas não quero aproximar-me.
Quero saber tudo de ti. O que fazes, o que pensas, o que comes, os aromas que respiras, o que sentes e aquilo que não sentes, o que ambicionas e o que sonhas. Quero ser o teu imaginário e o pano de fundo das tuas fantasias.
Quero estudar-te como se analizam os insectos sob o microscópio, para fixar-te de forma indelével na minha memória, cada ruga, cada cabelo, cada sinal, cada inclinação do teu pescoço, cada gesto das mãos e cada cicatriz no teu corpo sofrido.
Quero ter-te sempre presente onde quer que esteja, cada vêz que feche os olhos. Não me escorrerão lágrimas pelo rosto, mas surgirá um discreto sorriso nos meus lábios, significado do qual, jamais alguém saberá.
Se ficasses muito perto de mim, cairia para sempre nos teus braços e derreterias o meu coração com o teu fogo, abafando os meus gritos silenciosos de solidão, com as tuas palavras.
Mergulharia nos teus tímidos olhos castanhos para nunca mais voltar a ser eu. Mas isso meu amigo, jamais poderei permitir que aconteça. Jamais poderei admitir que sinto, pois tem sido tão dura a caminhada até aqui, que nunca mais poderei voltar a dar-me ao luxo da entrega, onde no passado me perdi por completo.
Por vêzes abandono-me por breves momentos, mas rapidamente volto a proteger-me, erguendo uma muralha e um fosso em meu redor. Sonho destrui-las e deixar-me ir com a maré, mas sei que nunca poderei fazê-lo pois o preço seria muito elevado...seria a minha própria liberdade.
No entanto eu sei bem que caio, comos todos nós, mas volto rapidamente a erguer-me, deixando para trás o coração e a alma, norteando-me pelo raciocínio lógico e pelo instinto de sobrevivência.
Sobreviverei assim, nem que me custe a própria vida. Desempenharei o meu papel com toda a aparente serenidade, até à última gota de sangue, desaparecendo finalmente da mesma forma como aqui cheguei.
Ninguém mais voltará a ter-me, ninguém voltará a conhecer o meu coração, ninguém saberá jamais quem foi que habitou este corpo.
Mas quero e foi por não poder ter que me encerrei nesta prisão que construi para mim própria e cuja chave engoli, para jamais ter a tentação de usar. Dentro dela construi uma máscara que uso hoje com mestria, mostrando apenas o que quero e posso a cada momento, recolhendo novamente à minha toca, à minha preciosa solidão para onde carrego todas as memórias... enfim, a bagagem de uma caminhada dura, de facto vivida e sentida.
Uma vida de acidentes fatais.
É o contraste de sentimentos opostos. A impulsividade temperada sempre a custo. O receio da exposição e a recusa da dor sempre inerente à rejeição.
Resposta a uma forma de estar, sentida sem direcção a ninguém, apenas com sentimento. Só um texto. Só uma mulher. Apenas uma vida.

MP

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