domingo, 30 de novembro de 2008

olhares

lágrima que dói
razão que chora
momentos da alma
perdida numa hora

páginas de um livro
escrito entre margens
em olhares perdidos
feitos coragem

lágrimas que doem
por não poder rolar
são mais sentidas
que um simples chorar

Rui Santos

sábado, 29 de novembro de 2008

Coisas da vida

Fiz chorar
Chorei
Fiz sofrer
Sofri
Dei
E recebi

O que é a vida?
Sem nós por desatar?
Um deslize domingueiro
Num imenso mar

Uma floresta florida
Numa tarde de verão
Um momento quente
Tostado na solidão

Uma volta de revolta
Quando se tem de dizer
Não
Uma lágrima caída
De um sorriso
Na mão

O que é a vida?
Um beijo colorido
Pintado no sol pôr
Um aroma inalado
De palavras de amor

Uma meta obsoleta?
Um medo latente?
Um abraço amigo
Que afaga e entende

Esgotei as respostas
Em todas errei
Aprendi que a vida
É mais do que eu sei

Mais que uma lágrima
Rolando
Ou um beijo
Apagado
Sei que a vida
É um momento
Inacabado


rui santos

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

acreditar

acreditar
é sacudir o marasmo
que sufoca a vontade de sentir

limpar o passado
de restos inúteis e frios

saber que o sol nasce rubro
em todas as direcções
e o dia se azula
na vontade de o ver

acreditar
é sentir a liberdade
de viver

ruisantos

balanços

naquele dia, ameno de palavras
os sentires eram solidão
viviam de invejas roubadas
lidas em sabores de ilusão

perguntei-me ao que vinha
não me soube responder
era uma lancha vazia
á espera de perecer

são momentos de balanço
são momentos de solidão
quem me entende neste laço
que me roi o coração?

serão sempre os amigos
que amparam e seguram
com sentires tão queridos
que mitigam a amargura

e regresso ao desejo
insano e urgente
de ter mais que palavras
que não bastam
a quem sente

ruisantos

sonhos

muito se sonha
e pouco se faz

e muito se faz
sem sonhos

faz a vida sonhando

porque a vida
é um sonho

rs

amor é

o amor
é uma fera amansada
que julgamos domada
até o dia chegar
solta-se de sopetão
escapa-se da mão
e começamos a amar

rs

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

mar de sentires

no mar dos sentires
não há porto seguro
há ventos por cumprir
e desejos em apuros

não tenhas em recato
cada vontade queimada
solta-te livre em desacato
e parte, á desfilada

no mar dos sentires
a vida corre lesta
em metas por abrires
cantadas numa gesta

mais que sonhos sentidos
ou gritos por calar
clama os silêncios feridos
desse imenso mar

ruisantos

sábado, 15 de novembro de 2008

renovo


na nudez dos meus dias
lavo a alma em terras alheias
singro parco de sentires
em rotas perdidas e néscias
rs

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

somos


somos água em carne viva
somos rios de rubra esperança
mais que palavras vadias
semeadas no acaso da distância
somos gritos ligados
por ermos de abundância

rs

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

cartas rasgadas


nas veredas e recantos
passo por encantos
caídos da vida
foram cartas rasgadas
por muito adiadas
em sortes perdidas
rs

cartas rasgadas
reflexos de desejos
sonhos efémeros
que por breves instantes
tocam a realidade
deixando momentos
para a eternidade
mp

como se move o coração
quando a pena é destra?
como se vivem sombras
quando o eco é forte?
com sonhos pingados
numa colher dourada
sobre brasas forjada
turgida, na tua mão
rs

terça-feira, 11 de novembro de 2008

íris




no fim do arco íris
há uma porta colorida
no cais da partida
para o mar dos corações

tem uma lenda escrita
por ninguém ainda lida
onde estão as ilusões

estão no mar colorido
muitas vezes vivido
refreado de emoções

comprado num desacato
entre tempos tombado
mora o mar
dos corações

rui santos

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

carinhos


no sentir de um afago
a vida é um lago
de calor e ternura

caiem silêncios calados
em dias rolados
lestos de candura

rs

nostalgia


A

Por vezes sinto uma certa nostalgia de falar contigo, A. Não sei explicar porquê, nem é jeito meu prender-me a questões fantasiosas.O teu mistério, os súbitos desaparecimentos e o segredo, não me deixam de forma alguma fascinada...sou demasiado crescida para tal. As coisas demasiado difíceis, desmotivam-me. Sou frontal...não tenho tempo para ser de outra forma e reconheço ser grande o meu defeito de intolerância perante tudo o que demora. Lembro-me do tempo em que refilava e contestava. Hoje não o faço, pois já nada existe que mereça de mim esses esforços...hoje observo, oiço e viro as costas afastando-me em perfeito silêncio. A minha invisibilidade e aparente tranquilidade tornaram-se uma arte cada vez mais refinada. Uma senhora sabe ser discreta, talvez por motivos diferentes, mas todavia com resultados idênticos. Escrevi...desculpa os erros, mas escrevo com um dedo--o indicador direito--a mão esquerda apoiando a cabeça, sempre em posição obliqua...uma madeixa de cabelo castanho caída entre os dedos enquanto o restante cabelo permanece obedientemente preso com uma mola....depois do banho, um aroma a limão e jasmim.... Estou de cama com gripe...para a semana terei a minha última saída para o estrangeiro---vamos, vem comigo?
beijo


MP

descoberta


A

Não sei mesmo se tenho muito para descobrir pois sou daquelas pessoas que tem constatado que na vida já tudo foi descoberto e limitamo-nos e observar repetições com pequenas variações com as quais vamos aprendendo. Aprecio pessoas simples, mas rapidamente constato que me cansam, que se subjugam facilmente, que se sentam ao meu colo e tentam ser interessantes e originais, talvez para me impressionar...não sei. Como todos nós, gosto de um bom mistério, mas quando é demasiado longo e arrastado, perco o interesse (sou das poucas pessoas que em nada se incomoda de não ler o final do livro) e desiludo-me com demasiada facilidade. Tenho as minhas paixões...o silêncio e a solidão, a música, as palavras, particularmente aquelas que não digo mas escrevo. Impulsiva? Demasiado e receio que nunca mude. Também me custa sempre acreditar nas pessoas pois sei por experiencia que mentem e são dissimuladas, não por mal, mas por inseguranças próprias. Mas sou uma mulher bem-disposta, embora bem mais complicada do que possa parecer e do que os outros parecem desejar...mas sou assim e não me vejo a mudar. Falas-me em Kant....tantas noites passei com ele em anos passados. Tantas que me fartei, preferindo pensar por mim por mais erros que cometesse. Eu, uma eterna insatisfeita que ainda hoje se massacra para sentir. Tem que haver algo mais forte pois a vida não pode ser apenas branda e previsivel...e como vêz, a esperança por aqui nunca morre, mas quando as coisas demoram faz-se sentir a minha urgencia e a minha premencia em avançar...nem que seja para o vazio do abismo. Enfim...tudo menos isto. ps: acho uma delicia que sonhes...eu já nem me lembro o que isso seja, mas faço-o acordada para ver se consigo arejar a cabeça.

Um final feliz. Será?

Um beijo final, ou feliz, não sei... MP

razão de sentir


JL,
E um dia vamos conhecer o desconhecido em cada um de nós. Um dia, quando já não existirem receios, quando foram passadas todas as provas com aprovação e já estiver minimizado o risco da saturação, racionalizado o sempre-presente risco de traição e negadas as necessidades de vingança.
A indecisão pairará porém, pois estes riscos estarão sempre presentes no imaginário de uma relação entre um homem e uma mulher, seja ela de que caracter for. Esta é particularmente especial e delicada.
Mas há que acalmar as fantasias mútuas. Ou vivê-las enquanto gestos desejados de prazer inconfessável e secreto. Ou fugir-lhes por não serem afinal aquilo que se imaginavam. Um fugir airoso sem deixar feridas sangrantes ou pegadas de lama sobre algo que poderia ter sido de uma beleza inesquecível.
Por enquanto mantenho a esperança de que poderá voltar a ser algo sereno e gostoso, de uma intimidade fácil e despojada, da qual se suga a energia para enfrentar o resto de um dia. Essa vida que tanto nos tira em troca dos bens materiais que acumulamos, tantas vezes estupidamente sem que com eles saibamos adquirir sensações ou partilhar sentimentos de ternura e carinho.
Temos muito em comum, mesmo que pouco partilhemos. Iremos sempre ter muito em comum...coisas e sentires dos quais não será sequer necessário falar pois ambos sabemos bem do que se trata e como o sentimos. Mas será que essa partilha não nos ajudará a arrumar a nossa realidade? A de cada um individualmente, e aquela que tanto falseamos entre nós; talvez seja mais útil varrer os fantasmas da alma e só depois nos sentarmos para olhar olhos nos olhos, sorrir e mergulhar nas tansgressões um do outro.
Poderemos então gozar o mesmo sol? A mesma areia entre os dedos dos pés? O mesmo aroma do mar prateado? O mesmo campo verde salpicado de papoilas? E quem sabe o mesmo lençol branco enrolado nas pernas entrelaçadas.
Os lábios num só beijo quente e terno, doce e perturbante, quando já pouco se espera voltar a ser perturbado ou tornar a sentir calor sem sol.
A minha mão na tua? Quem sabe? Fosse como fosse, seria algo que me saberia bem, ideia que acalentaria com o maior agrado. Sempre sem compromissos mas com convicção.
Partilhar o meu silêncio contigo seria sempre partilhar o que de mais intimo possuo....aquilo que muito raramente ofereço. Seria fechar os olhos e abrir os braços numa praia deserta, tocada pelo vento e batida pelas ondas. Seria acolher-te em mim tal como és, sem nada alterar e sem mais nada desejar que não viesse do sentir que passasse entre ambos.
Desejar não apenas o que se vê, pois a beleza exterior é efémera e subjectiva, mas ansiar pelo todo, pela delicadeza e nobreza dos sentimentos e pelo fogo que tão violentamente ardeu.
Que pena tanto tempo perdido. Que pena não ter chegado primeiro. Que bom que é descobrir a tempo. Que bom vir depois de todos e saber colher a ternura e carinho tão bem concentrados com a experiência dos anos. Espantoso como ninguém colheu o teu tesouro.
Façamos então estragos na vida um do outro. Estragos que nos tragam aquilo que de bom merecemos, enquanto guardamos e protegemos aquilo que de melhor temos feito, deixando o resto no passado.
No final, cansados mas satisfeiros, retomaremos a posição que nos foi destinada no mundo e nesta vida, sabendo no entanto que protegeremos sempre o que de especial existe entre nós.
Tu, o meu segredo e eu o teu sigilo absoluto.
Tu, o sol que me aquece o coração e o manto de estrelas que me cobre.
Eu, a presença constante e a manta quente que te envolve e dá, sem nada exigir, a segurança e a coragem.
Eu, o teu rasgar de horizontes para uma vida mais plácida.
Nós. Sabendo-nos verdadeiramente desejados e acarinhados apenas por aquilo que somos, quando já tanto nos exigiram e tão maltratados fomos... enfim chegados a um porto de abrigo e consolo onde o mal e a dor já não nos atingem.

MP

quero-te


P
Sai Daqui!
Quero viver para sempre. Na tua memória, no teu coração. Quero meter-me debaixo da tua pele permanecendo longe da tua vista, para que me tenhas sempre sem nunca me teres. Para te saturar os sentidos sem nunca de mim te cansares. Para estar sempre contigo sem nunca contigo estar.
Quero deixar-te intranquilo, invadindo inesperadamente os teus pensamentos sem que percebas como nem porquê. Quero-te mas não te quero, ficando o meu cheiro impregnado nas tuas narinas sem que alguma vez chegues a conhecê-lo conscientemente.
Quero estar longe ansiando pela tua proximidade, mas não quero aproximar-me.
Quero saber tudo de ti. O que fazes, o que pensas, o que comes, os aromas que respiras, o que sentes e aquilo que não sentes, o que ambicionas e o que sonhas. Quero ser o teu imaginário e o pano de fundo das tuas fantasias.
Quero estudar-te como se analizam os insectos sob o microscópio, para fixar-te de forma indelével na minha memória, cada ruga, cada cabelo, cada sinal, cada inclinação do teu pescoço, cada gesto das mãos e cada cicatriz no teu corpo sofrido.
Quero ter-te sempre presente onde quer que esteja, cada vêz que feche os olhos. Não me escorrerão lágrimas pelo rosto, mas surgirá um discreto sorriso nos meus lábios, significado do qual, jamais alguém saberá.
Se ficasses muito perto de mim, cairia para sempre nos teus braços e derreterias o meu coração com o teu fogo, abafando os meus gritos silenciosos de solidão, com as tuas palavras.
Mergulharia nos teus tímidos olhos castanhos para nunca mais voltar a ser eu. Mas isso meu amigo, jamais poderei permitir que aconteça. Jamais poderei admitir que sinto, pois tem sido tão dura a caminhada até aqui, que nunca mais poderei voltar a dar-me ao luxo da entrega, onde no passado me perdi por completo.
Por vêzes abandono-me por breves momentos, mas rapidamente volto a proteger-me, erguendo uma muralha e um fosso em meu redor. Sonho destrui-las e deixar-me ir com a maré, mas sei que nunca poderei fazê-lo pois o preço seria muito elevado...seria a minha própria liberdade.
No entanto eu sei bem que caio, comos todos nós, mas volto rapidamente a erguer-me, deixando para trás o coração e a alma, norteando-me pelo raciocínio lógico e pelo instinto de sobrevivência.
Sobreviverei assim, nem que me custe a própria vida. Desempenharei o meu papel com toda a aparente serenidade, até à última gota de sangue, desaparecendo finalmente da mesma forma como aqui cheguei.
Ninguém mais voltará a ter-me, ninguém voltará a conhecer o meu coração, ninguém saberá jamais quem foi que habitou este corpo.
Mas quero e foi por não poder ter que me encerrei nesta prisão que construi para mim própria e cuja chave engoli, para jamais ter a tentação de usar. Dentro dela construi uma máscara que uso hoje com mestria, mostrando apenas o que quero e posso a cada momento, recolhendo novamente à minha toca, à minha preciosa solidão para onde carrego todas as memórias... enfim, a bagagem de uma caminhada dura, de facto vivida e sentida.
Uma vida de acidentes fatais.
É o contraste de sentimentos opostos. A impulsividade temperada sempre a custo. O receio da exposição e a recusa da dor sempre inerente à rejeição.
Resposta a uma forma de estar, sentida sem direcção a ninguém, apenas com sentimento. Só um texto. Só uma mulher. Apenas uma vida.

MP

um dia


Um dia...
um dia gostaria de poder falar contigo, de ouvir a tua voz.
Um dia gostaria de poder silenciosamente observar-te, recolhendo de novo à minha invisibilidade para não afectar de forma alguma tudo aquilo que me encanta.
Um dia, se alguma vêz tivesse aquilo que desejava, provavelmente não saberia o que fazer, tal o tamanho da minha surpresa.
Um dia são todos os dias...sempre iguais, sempre terminando com a vaga sensação de insatisfação, com a noção de que existe algo a fazer que nos é vedado, que é e será sempre uma impossibilidade.
Um dia que não seja apenas chegar ao fim para aguardar mais um dia igual, sem memória e sem desejo.
Um dia existirá alguém que me permita olhar para cima e não apenas para o lado.
Um dia será que serei capaz de gritar mais alto...ou apenas desaparecer na bruma da madrugada, para mais nada poder desejar. Mesmo quando achamos que as coisas existem, verificamos que são meros logros, algo cuja existencia nunca poderemos confirmar, algo incerto e talvez falso, que é apenas uma construção da imaginação. tens o meu fascinio integral

MP

pérola


Meu querido Z,
És uma das pérolas da minha vida. Mesmo à distância sem nunca interferir, procuro saber os teus passos e do estado do teu coração.
Olharei sempre por ti e espero a todo o momento que me digas "preciso de ti agora", pois quando tu cais eu sofro e quando te magoam sinto a tua dor e a desilusão. A tua tristeza nunca cessa de me atingir e o perigo que te rodeia, sinto-o como se fosse para mim.
Raramente te procuro, tu bem sabes, preferindo que sejas tu a procurar-me sempre que de mim sentires falta.
Gosto de te ver livre e feliz, mas sempre a pérola da minha concha, onde poderás recolher quando o mundo te maltrata. E isto, quero que o saibas para sempre.
Quero estar aqui presente para todos os maus momentos da tua vida, deixando-te gozar os melhores com aqueles com quem os queiras partilhar.
Por vezes sinto a falta da tua inesgotável ternura, do teu afecto e do teu riso contagiante, mas então fecho os olhos e a tua presença torna-se tão nítida como se estivesses abraçado a mim.
Não chores meu amor, nunca mais chores longe de mim, pois quando te apetecer chorar grita por mim e eu prometo que irei a voar.
Penso frequentemente em chorarmos juntos, não deixando de ser curioso nunca o termos feito. Só contigo poderia chorar, pois só tu poderias entender a tristeza e a solidão de cada lágrima e só tu me saberias acompanhar e confortar, sem nada perguntar...exigindo sempre tão pouco.
Bem sabes, que quando estamos juntos falamos de tudo, quantas vezes para evitar cair nos braços um do outro chorando lágrimas amargas de tristezas semelhantes mas nunca partilhadas.
Nunca mudes uma vírgula do ser humano que és, pois também eu sou um pássaro frágil e magoado, que necessita saber que há alguém no mundo que me daria consolo se eu não mais pudesse estender as asas e voar.
Hoje os meus beijos são teus.

MP 31/10/07

penso em ti

A,

Penso em ti. Nunca de uma forma obsessiva, mas a ideia de ti persiste sem memória e sem desejo, apenas pela troca de algumas palavras carregadas de carinho.
Sei bem que palavras leva-as o vento, como diz a sabedoria popular, porém, para ti eu tenho apenas palavras que espelham uma troca esporádica de pensamentos dispersos. Palavras de conforto que aquecem ocasionalmente o coração, até pela forma inesperada com surgem, após longos periodos de ausência.
Vidas paralelas , que, como tal, nunca se tocarão, mantendo no entanto, um conhecimento dos seus mútuos recantos ocultos, sem que alguma vêz se venha a conhecer a sua verdadeira realidade .
Nutro um gosto preverso por este tipo de "não-relação"e pelos sentimentos de uma realidade que permanecerá sempre noutra dimensão. Suficientemente distante para que me sinta protegida e não suscite a tão perigosa curiosidade, que sempre acaba por surgir com a proximidade.
Resta-me controlar um defeito que é apenas meu: a tendência para forçar a minha entrada na alma e no coração das pessoas, da qual me arrependo. Todos temos defeitos, e este talvez seja aquele que mais me prejudica.
Curioso e tranquilo é o facto de nada me exigires e de raramente abrires o teu coração, resguardando assim a tua intimidade, mantendo-te num plano da idealização e da ficção, como se de facto fosses um mero fruto da minha imaginação, ainda sem substracto ou conteúdo.
Como deves já ter-te apercebido, não sou uma mulher paciente, embora dê essa ideia de mim. Sinto sempre que o tempo urge e tudo aquilo que não se desenrola rapidamente, jamais acontecerá. Somos assim, algo desconhecido que nunca verá a luz do dia, que nunca acontecerá , pelas mais diversas razões que me recuso a elaborar.
Sejamos então uma leitura mútua.
Ocorre-me apenas uma ideia de um dia poder sentar-me contigo a ler-te um texto, enquanto permaneces de olhos cerrados, algures no campo. Quando terminasse talvez te desse um beijo em agradecimento, antes de partirmos de novo, cada um para o seu caminho, paralelos na vida, onde nada existe em comum. Sendo esta , uma cumplicidade com o desconhecido.


MP

sábado, 8 de novembro de 2008

viver

viver
é sonhar a felicidade
agarrar a vida em tons de vermelho
trincar cada minuto com beijos de paixão
selar o dique das águas moles
sorver o sal
renascente, insubmisso
negar a derrota fácil
inspirar rumos
para a além do visivel
correr, em ousadas ilusões perecíveis
preciosas como tu

viver
é secar as lágrimas com um sorriso
domar memórias inertes
enroladas em passados perdidos
semear saudades do futuro
em azuis campos de coragem

viver
é nos sussuros amordaçados
cantar a vida altissonante
troçar da fenda nocturna
com um simples bom dia
e ao sol deleitares
por te sorrir

viver
é um beijo
numa aurora
uma espera
sem demora
que nos faz acontecer

é um sorriso molhado
no tempo guardado
á espera de viver

ruisantos

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

sementes

cada lágrima,
uma semente

cada riso,
um fruto

um amor,
toda a árvore

rs

desejos

quando se quer
arde o desejo cativo
do não querer
alisa-se o fogo
em penumbra gritante
e a liberdade...
exulta, ávida de honra
refrea o desejo
mascara a dor
de quem quer
sem ter

rs

dor

dor
de ter
o que se não tem
dor
de ter
o que se tem
dor que rasga a alma
por saber
o que poderia ser
se fosse mais além

rs

luz

do nada se faz luz
do querer, nasce o sentir
sente a luz
na palavra que tarda em nascer
ilumina o espaço
e a vida renascerá
florida em ti

rs

alma aberta

de alma aberta
volto a ser quem sou
vejo a vida
com outro sabor

o entardecer
brilha renovado
ávido de fogo

cada recanto
desperta um encanto
esquecido na bruma

a noite ingrata
sorri frágil, quebrada
pelo amanhecer
de promessas agéis
sôfregas de vida

de alma aberta
vivo de novo
em constante remoinho

confronto sombras vazias
com leitos desassombrados

e fluxos confluentes de sangue e mel
transbordam irisados de afectos
por descobrir

de alma aberta
mas não certa
vou á descoberta
dos dias do porvir

Ruisantos

terça-feira, 4 de novembro de 2008

voa















Voa
na imensidão do impulso
emergente em ti

voa
no espaço abstrato
carente de ti

voa
no deleite incontido
pousado em ti

voa
no olhar de uma alma
numa história por lapidar
em sereno repouso, voa
o que importa, é voar

Ruisantos

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

saudade




saudade
é uma memória inacabada
uma cabana uma estrada
que acabamos por voltar

saudade
é um coração perdido
num dia adormecido
sentado á beira mar

saudade
é um beijo retirado
a um desejo guardado
encontrado ao luar

saudade
é tudo o que faria
se pudesse um dia
ao tempo retornar

RuiSantos

domingo, 2 de novembro de 2008

silêncio

silêncio...
é um lago de rubros pensamentos
que o tempo adormeceu
contudo
ânsias de liberdade
turbilham fluxos de carmins palavras
rompem diques de espuma
rasgam margens de vento
e as estrelas...
são tuas
no silêncio de um desejo

rs

sábado, 1 de novembro de 2008

palavras

palavras pressentidas
sabores antecipados
são telas escolhidas
de amores guardados

rs

moedas

quantas faces tem uma moeda?
quanto amor tem um desejo?
quanto ódio asfalta a estrada?
tenho moedas, redondas sem faces.
num contínuo rolar, amassam e confundem.
o amor, fica ferido
o ódio, amansado.
e as moedas,
continuam a rolar...

rs

fábulas

Tanto por viver
Tanto por sonhar
Vivo sonhando a vida
Criando fábulas, em tons de azul
Neste mar de choro e riso
Perdendo a conta terrena
As vezes que te amei, sempre
Criando muralhas de espuma
Que facilmente derrubas
Apenas por seres quem és
(quem mais sonha como eu?)
E sonho
Dia após dia
Viver de novo
Sem este espinho, polido
Que penetra, condena e consome
Questões sem horizonte
Etapas por queimar

Vida de sonho
Não te pertenço
Meus sentires e afectos
Não são teus
Passo por ti quando dormes
Na branca calada da noite
Como benigno caçador de emoções
Sou um sonho que sorri
Como tola e eterna criança
Que sonha não acordar
E ri de quem não sonha
Porque sabe um segredo
Que teima sempre em contar

Estar na vida sem sonhos
É correr sem nunca chegar

RuiSantos

livro em branco

Quem sou?
O tempo dirá.
Os dias que passam,
responderão por mim.
Se souberes ouvir o vento,
que nem sempre sopra certo.
Se esperares pelo amanhecer,
que por vezes tarda.
Poderás ver outro dia
escutarás mais uma fábula,
docemente sussurrada,
pela aragem da manhã.

Quem és
Não sei
Estou à porta, e bato
Nada tenho para dar
Apenas, um livro de ilusões.
Ainda em branco
Esperando por nós

RuiSantos

A Minha Caixa de Sapatos

A Minha Caixa de Sapatos

(excertos condensados de um livro por escrever)

Um dia acordei, certo que o dia iria ser mais um daqueles dias em que não me apetece fazer nada. Nada, nadinha, apenas estar deitado á espera que o tempo passe por mim. Olhava em frente e via uma enorme espiral que me puxava para o fundo do poço, onde tudo era negro, indiferente e sem sentido. A motivação estava de rastos, o amor-próprio, idem, e eu a ressacar de mais uma véspera de químicos e álcool.
É que isto de estar vivo, não é apenas viver, é também ter em metas a atingir, sonhos por lutar, no fundo, ter uma motivação que me faz saltar da cama, e rir para o dia que começa. Humm... querida alegria química, solução para tantos males da humanidade, sem ti o que pode fazer este rapaz?
- Torna-te sociável, sacode essa indiferença e põe um apresentável sorriso
– resmungava, na esperança de me ouvir – põe um lacinho na embalagem e vais ver que ninguém repara quanto estás vazio, por dentro. Mantém a aparência, rapaz, mantém a aparência. Bem sabes que a um cão caído todos lhe dão pontapés.
E assim acordei, sem vontade de fazer nada. Triste por dentro, frustrado, desejando que tudo não passasse de um filme de terceira categoria, onde o fim acabaria com esta lengalenga interminável. Ahh..., então é que seria a sério. Nada de cometer os erros do passado. Nada de perder a cabeça por coisas vãs. Apenas dar tiros pela certa e ir à luta quando a vitória fosse garantida.
O busílis da questão é que este mundo paralelo desmoronava-se, na proporção dos resquícios químicos que o meu corpo ia expulsando. Tornando-me ávido, de voltar a repor o nível, que permitisse voltar a planar, voar baixinho, como costumava dizer.
Mas nesse dia pus-me a pensar. – tens de dar a volta a isto, senão vais afundar de vez. Acaba com essa estupidez de pensares ser um coitadinho. Ninguém te agradece, antes dirão – pois é, ele até tinha problemas psicológicos, era difícil viver com ele, bem que fizemos o possível... etc, etc etc. – e se hoje fosses dar uma volta? Esquece os amuos, esquece as discussões, e perde o medo. O dia, por natureza já está estragado, pior não pode ficar.
Ora bem – disse num assomo de ousadia instantânea – hoje vai ser á minha maneira.
Primeiro, vencer o medo de arriscar a ser feliz. Sim porque a felicidade assusta, para quem se habituou a passar-lhe ao lado. – tudo bem, vai em frente, mal já estás, só podes é melhorar - encorajei-me timidamente. Pronto, está decidido, vou sair e que se dane o resto. Minha amiga de duas rodas e pedais, vamos dar uma volta até à praia, queres? Há tempos que não conversamos, em intimidade, só olho, com saudades dos dias em que íamos por aí sem destino. - Será que ainda tens pedalada para mim – atreve-se a perguntar com descaramento – sabida a menina... mas certa como sempre, as bicicletas têm sempre razão, nestas coisas do físico.
(continua)



É como estou
vendo sonhos distantes
Passam os dias, passam as noites
Quero-te,
Grito insano de tanto querer
Pelejo tonto, em batalhas espúrias
Centelhas de dor riem, sem parar
Vivo e sobrevivo
Consumo o tempo
Em renovos fluxos
E espero, na vaga que rola
O rio de beijos ocultos
Que acalmam e serenam
A ilusão do dia
Quedo e mordaz

Parto em desalinho
Esqueço quem sou
Vislumbro no ocaso
Espaços e memórias
Rompendo amarras
De promessas ocultas
Ondulando desejos
E veredas, sem destino
Sugam, a energia vital

Contudo
Sangue quente, ainda flúi
Veias carmins, seguram risos
E a vida escorre
Como gotas transbordantes
De mares distantes, e amenos
tornando, a ávidos lábios
Que se perderam, por querer

Tudo são pensamentos
Que em círculos se enlaçam
Em razões sem nexo
Por tudo e por nada
Mas
Sempre presente
Serás.

RuiSantos

és

Corro, corro
Fujo de mim
A noite e o dia
trocam sem fim

Procuro, no espaço
Encontro no tempo
A nesga de vida,
Que ri e dá alento
O dia vai alto
A tarde finda
Sempre estás em mim
Como bruma florida
Perco-me, perco-me
E deixo-me perder
Em insanas noites
Até o dia querer
Tanto e tão pouco
Salpicada de azul
Ensejos de fortuna
Soltos…
Rumam ao sul

Corro, corro
Saio de mim
Nasço da dor
De dias sem fim

Em tua cidade
Faço morada
No teu calor
Esqueço a dor
Como pássaro
Ébrio de luz
Estou em ti
Prados e rios
Deslizam sem fim
Mares e serras
Renovam-se sem quês
Apenas o vento
Trás as sombras do tempo
Do tempo
Que há-de vir.

RuiSantos

Nadas

Gotas de água enchem o mar,
Pequenos nadas constroem a vida
Gotas de água multicores
Formam arco íris, de utopia
Mudando as certezas inúteis
Em dúvidas errantes, de paixão
Gotas, lágrimas que o dia verte
Pela hora que passa
Horas que gritam
Horas que choram
No sussurro imponente do mar
Memórias de ondas, lisas
Em rios de gotas
teimosas em se unir
Acalentando sonhos e visões

Gota
Quanta falta fazes
Sem ti
O dia torna a um vazio de cinzentos
Sendo apenas
Pequenos nadas
Como nós
Edificando pontes sem termo
Com suaves trovas simples
Trazem noites e dias
À eterna certeza
Da paixão

RuiSantos