segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

conversas


- que fazes?
- nada, estou enrolado em pensamentos.
- sim? Em que pensas?
- coisas…
- já vi que não estás falador. Chateado?
- não. Não se passa nada, apenas estou cansado de viver sem saber bem para onde vou.
- como não sabes? Tu que és seguro e tens resposta para tudo... Como não sabes?
- não sei nada. As nossas conversas levam-nos sempre ao mesmo ponto de partida. Sabemos dar conselhos, mas para nós, a insegurança é constante.
- o que te preocupa? Já sei, estás com saudades de casa, é isso?
- não posso negar algumas. Tenho saudades de um lar, uma família, uma partilha de sonhos e afazeres.
- tens amigos. podem ajudar a passar a solidão.
- eu sei
- é mais simples ter um amigo que ter uma relação. È aborrecido ter de dar explicações sobre o que se faz, onde foi, com quem foi, etc…é um adeus á liberdade, e depois, acabam sempre mal. Com uma traição. Não, não me voltam a apanhar nessa esparrela.
- tolice. Os amigos não substituem o amor, se bem que sejam o nosso apoio, quando tudo cai. Nem sei como seria viver sem amigos.
- sim, são mais generosos e dedicados. A amizade dura para sempre. È menos complicada. Se estiver um dia sem te falar, não há problema por isso, se for a tua namorada que passe o dia sem te dirigir palavra, começas a pensar que algo está mal.
- e não é para pensar? Quando se gosta, as palavras são poucas e o tempo escasso. Cada momento esquecido, é um momento perdido.
-è desse sufoco que não gosto. Prefiro a amizade, é menos complicada e mais segura.
- deixa-te de desculpas, o que tens, é medo. Medo de assumires uma relação. Medo que ela acabe. Medo de sofrer.
- sim, tenho medo. Não quero sofrer mais, com nenhuma decepção. Já bastam as que a vida me deu. Todos os sonhos foram levados numa vida de sofrer. Não, não vou voltar a passar pelo mesmo.
- acabamos por voltar sempre á mesma conversa. Tanto me dizes que queres viver o que a vida te deve, como recuas para o teu canto e te fechas em gavetas de sentimentos.
- já me conheces, sabes o que quero e o me que me assusta. Na verdade… não sei o que quero, nem o que fazer.
- o que queres é fácil de adivinhar. Ser feliz
- sim. Mas… como?
- vivendo
- è o que faço
- Se vives, porque te queixas?
- não comeces com essas perguntas, sabes que estou bem assim, e para mais, tenho a amizade que basta para preencher os momentos vazios.
- não. Não pode nem deve bastar. Tem de existir algo mais. Um brilho no olhar. Uma loucura que se faz, Um arrepio de saudade de um dia á beira-mar. Um local. Uma história partilhada. Mais tem de haver. Apenas a amizade não completa a vida.
- eu sei… mas gostar… dói. Não quero sofrer mais. Basta. Muda de conversa.
- está bem. Do que queres falar?
- dos teus pensamentos.
- que têm?
- deixam-te triste. Como amigo, tenho de te animar.
- não consegues, não é algo que a amizade resolva. Posso deitar a cabeça num
travesseiro para dormir . Mas é da almofada macia que preciso. De adormecer no calor partilhado. Acordar com quem amamos, é um momento sem palavras.
- és sempre o mesmo. Um poeta com palavras fáceis. Que te prende para seres feliz?
Tens quem goste de ti, porque esperas? Se não arriscares, perdes a oportunidade de vez
- argumentas com as minhas palavras?! Fazes me rir…
- comigo é diferente, eu não quero ninguém, estou muito bem assim no meu canto.
- faço de conta que acredito mas nem a ti te convences. Ou esqueces os desabafos em que te queixas dos gritos do silêncio?
-São momentos, em que me sinto só. Gostava de viver a vida que me foi negada. Tenho os meus dias, em que quase desejo ter alguém para partilhar a vida. Mas passa depressa.
- acabas por me dar razão, no fim de tudo.
- não. Sou um caso encerrado. Muda de assunto. Fala-me de ti.
- estou a desembrulhar pensamentos, nada de mais. O tempo passa e ainda tenho pontas por desatar.
- somos complicados. O melhor é beber um copo e não pensar muito no assunto.
- sim, mas antes, vou enviar mais uma mensagem, pode ser que ela responda ainda hoje.
- sempre o mesmo.
- nem sempre.
- já pensaste escrever sobre o assunto?
- já. Talvez um dia o faça, quando souber o que dizer.
- que título vais dar?
- conversas.
- não escolhes nada melhor?

ruisantos

5 comentários:

Anónimo disse...

O meu abraço para os dois interlocutores....tão simples e coloquial, mas tb tão real

Anónimo disse...

Tanto tempo desperdiçado com conversas à toa que não levam a lado nenhum. Medo de sofrer temo todos, e não nos dá medo de fazer sofrer os que nos amam? Como seres humanos somos egoístas pomo-nos a pensar em nós esquecendo que os outros também existem e que não são simples marionetes nas nossas mãos que movemos a nosso belo prazer, gostaremos nós que nos façam o mesmo, que nos usem a seu belo prazer? Medo de ser magoado? O meu maior medo não é de ser magoado mas o de magoar os outros.

O tereiro interluctor

Anónimo disse...

Caro "terceiro interlocutor":
Que generosa e abnegada a sua visão das coisas da vida...será só em prosa ou melhor, emtom de crítica , ou será assim mesmo no dia-a-dia que a todos consome, de uma ou outra forma?
Como é fácil criticar

Anónimo disse...

RS, que neste novo ano consigas que todos os teus desejos se realizem. Quanto ao teu texto, está filosoficamente pragmático e parece a conversa entre as duas faces opostas das nossas almas :)

Anónimo disse...

Terei de viver mais uns poucos de anos e continuar a achar que tudo é um desperdício. Ou talvez a vida seja generosa comigo e eu perca o medo. Tomara! Para mais tarde te dizer que vale a pena.

Beijinho e feliz 2009 :)