é urgente
varrer os sótãos bafientos
de passados descentrados
em lições perdidas de prazo
é urgente
comprar os dias vagarosos
e ler os instante magníficos da vida
sorvendo-os como água límpida
de um oásis distraído
é urgente
fugir do toque da batida cadenciada
que tenta enlaçar, sufocar e julgar
num inócuo ondular estéril e seguro
como cova inerte e escancarada
é urgente
cantar a ousadia, de rasgar o doce cerco de lamentos
rompendo o coro de intenções simpáticas e perdidas
e reconstruir, edificar e alavancar
cada pedra quebrada e descorada
por tombos fechados e datados
é urgente
suprimir, findar e combater, os pré conceitos
estúpidos e inúteis, de cor, origem e poder
comprados em saldo, ou oferecidos, como excelso tesouro
a quem não sabe o que é a essência da vida
é urgente
ouvir os silêncios, de concelhos sábios
que falam, do que a multidão não sabe,
nem virá a saber
e ensinam o segredo do que sou, o que quero
onde vou
é urgente
sentir sempre, um arrepio, níveo e virgem
em cada sorriso fácil e solto, oferecido por uma criança
e que me recorda, o que o inato construtor de sonhos
que sou, e serei
e sim,
é muito urgente
em cada passeio de mão dada
desenhar na brisa da tarde
um desejo, uma loucura, uma canção
e dizer sem pressa, num lento sussurrar
amo-te
RuiSantos
Um pouco de azul
Há 8 anos
2 comentários:
bonito esse poema tão urgente.
continua a escrever amigo.
Andas muito desaparecido lol,mas ainda bem que a tua escrita continua.
beijinhos
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
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