sábado, 1 de novembro de 2008

A Minha Caixa de Sapatos

A Minha Caixa de Sapatos

(excertos condensados de um livro por escrever)

Um dia acordei, certo que o dia iria ser mais um daqueles dias em que não me apetece fazer nada. Nada, nadinha, apenas estar deitado á espera que o tempo passe por mim. Olhava em frente e via uma enorme espiral que me puxava para o fundo do poço, onde tudo era negro, indiferente e sem sentido. A motivação estava de rastos, o amor-próprio, idem, e eu a ressacar de mais uma véspera de químicos e álcool.
É que isto de estar vivo, não é apenas viver, é também ter em metas a atingir, sonhos por lutar, no fundo, ter uma motivação que me faz saltar da cama, e rir para o dia que começa. Humm... querida alegria química, solução para tantos males da humanidade, sem ti o que pode fazer este rapaz?
- Torna-te sociável, sacode essa indiferença e põe um apresentável sorriso
– resmungava, na esperança de me ouvir – põe um lacinho na embalagem e vais ver que ninguém repara quanto estás vazio, por dentro. Mantém a aparência, rapaz, mantém a aparência. Bem sabes que a um cão caído todos lhe dão pontapés.
E assim acordei, sem vontade de fazer nada. Triste por dentro, frustrado, desejando que tudo não passasse de um filme de terceira categoria, onde o fim acabaria com esta lengalenga interminável. Ahh..., então é que seria a sério. Nada de cometer os erros do passado. Nada de perder a cabeça por coisas vãs. Apenas dar tiros pela certa e ir à luta quando a vitória fosse garantida.
O busílis da questão é que este mundo paralelo desmoronava-se, na proporção dos resquícios químicos que o meu corpo ia expulsando. Tornando-me ávido, de voltar a repor o nível, que permitisse voltar a planar, voar baixinho, como costumava dizer.
Mas nesse dia pus-me a pensar. – tens de dar a volta a isto, senão vais afundar de vez. Acaba com essa estupidez de pensares ser um coitadinho. Ninguém te agradece, antes dirão – pois é, ele até tinha problemas psicológicos, era difícil viver com ele, bem que fizemos o possível... etc, etc etc. – e se hoje fosses dar uma volta? Esquece os amuos, esquece as discussões, e perde o medo. O dia, por natureza já está estragado, pior não pode ficar.
Ora bem – disse num assomo de ousadia instantânea – hoje vai ser á minha maneira.
Primeiro, vencer o medo de arriscar a ser feliz. Sim porque a felicidade assusta, para quem se habituou a passar-lhe ao lado. – tudo bem, vai em frente, mal já estás, só podes é melhorar - encorajei-me timidamente. Pronto, está decidido, vou sair e que se dane o resto. Minha amiga de duas rodas e pedais, vamos dar uma volta até à praia, queres? Há tempos que não conversamos, em intimidade, só olho, com saudades dos dias em que íamos por aí sem destino. - Será que ainda tens pedalada para mim – atreve-se a perguntar com descaramento – sabida a menina... mas certa como sempre, as bicicletas têm sempre razão, nestas coisas do físico.
(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

nas caixas de sapatos os meninos guardam os seus pequenos mas preciosos tesouros, protegidos dos olhares de cobiça e inveja, de quem pouco valor lhes dá. Outras vezes escondem os escritos do seu descontentamento e da sua desilusão. E assim se guardam a lua e as estrelas...